quarta-feira, dezembro 29, 2021

A discoteca da minha vida #108: "xx", The xx

Sonâmbulos de todo o mundo, alienados de todos os hospícios, românticos espalhados pelo cosmos, diletantes dos cinco continentes, fatalistas de todas as espécies, sonhadores das oito dimensões da Teoria das Cordas; este capítulo da discoteca da minha vida é-vos dedicado, porque os The xx fazem o género de música terapêutica que é precisamente indicada para a vossa variegada condição clínica.

Suaves e pegajosos como veludo mergulhado em mel, fantasmagóricos como uma noite no cemitério dos suicidas arrependidos, melódicos como Chopin depois de sete noites mal dormidas, os The xx rebentam com a escala da Dream Pop e este disco debutante, de 2009, é uma coisinha linda de princípio a fim, espécie de compilação de temas de ninar adultos mal amados, easy listening para motards do inferno, cruzamento de referências que oscilam loucamente entre a experimentação electrónica e o pós-punk, num minimal sussurro a duas vozes, que encanta a sensibilidade e embala a insónia.



Fundada por Romy Anna Madley Croft e Oliver David Sim, que são amigos desde os três anos de idade, a banda faz de facto da nostalgia um objecto melódico e sempre que ouvimos um tema qualquer deste disco somos transportados para um lugar qualquer entre o passado e o desejo, cuja substância electro-química causa imediatamente arrepios na espinha e pele de galinha.



Os The xx são uma boa invenção de Deus. Funcionam como um sedativo, mas também como um anti-depressivo Ao ouvi-los, hesitamos entre o sofá e a pista de dança. Entre o domingo chuvoso e a tarde de verão. Apetece fazer carinhos à namorada, ou cócegas ao cão. Esta londrina e inspirada malta é capaz de nos conduzir em várias direcções, todas elas agradáveis aos sentidos, todas elas viajadas sem pressa, com toda a calma do mundo, apreciando cada instante.



E este disco é uma bênção para os sentidos, um conforto para o espírito, um abrigo que encontras no coração da tempestade. Do principio ao fim.