quinta-feira, junho 21, 2007
Alfredo, amigo, o Prost foi um granda mago, man.
"Posso ser considerado herético, mas sempre suspeitei que Alain tinha uma habilidade maior."
Frank Williams - ex-patrão dos dois pilotos - comparando Alain Prost com Ayrton Senna
Deixou-me um divertídissimo recado, o meu querido amigo A.F., a propósito das curtas palavras que editei sobre Prost, no postal em que faço o elogio de Hamilton. Ora acontece que o A.F. não tem consideração nenhuma pelo grande campeão francês, o que é comum em Portugal e não só. Eu bem sei que o personagem não é simpático. Que toda a gente gostava era do Senna, ou do Piquet (deuses, que pezudo!), ou do Alan Jones, ou do Nigel Mansell (há gostos para tudo) ou de muitos outros que nem um lugarzinho pequenino na história do automobilismo internacional souberam conquistar: os alboretos deste mundo.
E porque me recuso a aceitar a validade dos argumentos do A.F. - que reduz Prost à categoria de condutor de carrinha limpa neves; e porque, mais a mais, o A. F. queixa-se deveras que eu nunca dou resposta aos comentários da sua lavra que tenho a honra de receber aqui neste blog, decidi-me ao contraditório. Principalmente, confesso, porque é facílimo contradizer o A.F. nesta matéria (deve ser a única). Basta enumerar os factos.
Por ser muito desajeitado, Alain Prost correu para as 4 principais equipas da F1 contemporânea: Renault, McLaren, Ferrari e Williams. Como não prestava para nada só ganhou títulos mundiais para duas dessas marcas. Na Renault, de que foi o grande responsável pelo futuro sucesso, venceu apenas 8 grandes prémios pilotando umas caranguejolas turbolentas que só ele mesmo conseguia levar até ao fim das corridas (René Arnoux sempre foi excelente a partir motores e Jean Pierre Jaboille deve ter terminado para aí duas provas na sua vidinha de azarado profissional). Na Ferrari então foi o desatre total: nos dois anos que lá esteve foi vice-campeão em 1990 e quinto em 1991. É claro que a Ferrari desses dias não era a Ferrari de hoje (a Scuderia não conseguiu ser campeã com ninguém entre 1983 e 1999), mas isso é um detalhe: o francês é que não presta. Aliás, foi precisamente pela sua falta de habilidade que Alain Prost foi 4 vezes campeão do mundo, sendo um dos mais bem sucedidos pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos. E justamente por ser muito inferior a Ayrton Senna e nem ter comparação com Niki Lauda é que dois dos seus títulos foram conquistados com estes senhores como colegas de equipa, na Mclaren. O preconceito com este desajeitado condutor é tal que, apesar de ter sido tantas vezes campeão do mundo como vice-campeão, os seus detractores lá lhe inventaram a deselegante alcunha de "eterno segundo". A ter o epíteto alguma coisa de razoável, seria simetricamente justo que lhe chamássemos o "eterno primeiro", certo?
Na sua carreira de piloto lento e pouco competitivo, Prost disputou 200 grandes prémios, ganhando 51, subindo ao pódio por 106 sortudas ocasiões, partindo em primeiro lugar da grelha da partida por 33 vezes e batendo o record de volta em 41 corridas. Convenhamos que estes números são uma vergonha. Só um inapto consegue ganhar um em cada quatro grandes prémios disputados. E se houve coisa que Prost nunca soube fazer foi ultrapassar: certa vez, no Grande Prémio da África do Sul de 1986, o rapaz saiu em último, das boxes. Chegou em primeiro, efectuando nessa corrida a incrível quantidade recordista de 16 (dezasseis) ultrapassagens. Pura sorte, claro. Aliás, para quem não sabia sequer ultrapassar retardatários, o homem fartava-se de fazer corridas de trás para a frente, embora isso se deva provavelmente a alguns truques de prestidigitação levados a cabo por comissários de pista mal intencionados. Alain Prost foi eleito o desportista mundial do século XX, na categoria dos desportos motorizados, precisamente por ser um azelha e o tal Lauda, que também não percebia nada disto, referia-se-lhe por "fast sun of a bitch", mas deve ter sido sempre depois de ingerir uns valentes copázios de schnaps.
Alain Prost, é certo, não corria riscos desnecessários (um cobardolas!). Deve ser por isso que está vivinho da silva. Não fazia fitas nem armava aos cucos (um sonso!). Estava mais interessado em afinar o carrinho (um calculista!), tarefa em que, muito provavelmente, não terá par na história da competição. A sua condução era de uma precisão absolutamente extraterrestre, apesar da falta de jeito, e o seu entendimento dos limites do carro e da pista, bem como o seu sentido estratégico, davam, por si só, para alimentar a substância teórica e prática de vinte e três mestrados e quarenta e tal MBA's. Desgraçadamente, era baixinho e desinteressante e ainda por cima francês, que é coisa que não fica bem a ninguém. Mas, por favor, não vale a pena entrarmos em niilismos de algibeira. O homem era um génio do volante, Alfredo, cai na real, meu.