terça-feira, agosto 21, 2007
Os filhos da meia-noite (II).
"A missão de governar as Índias foi, por qualquer misterioso desígnio da Providência, posta aos ombros da raça inglesa."
- Rudyard Kipling. 1889 -
1 - Causa e consequência
É preciso vir o Presidente da República dizer que quem comete um crime deve ser tratado como um criminoso. É preciso meter a jogar, em simultâneo e na mesma posição, dois laterais direitos para se ser despedido. É preciso paciência. Daquela chinesa.
2 - O Deus das Pequenas Coisas
A Indía nunca existiu. O Paquistão nunca existiu. Até àquela trágica meia noite de 15 de Agosto de 1947, a única coisa parecida com uma nação que os nativos conheciam era muito simplesmente a Inglaterra. 60 anos depois, o Paquistão continua dominado pelo despotismo, militar ou religioso, e a Índia só parece sexy porque os editores ocidentais não sabem do que é que estão a falar. A India não é bonita. A India é de castas, senhores. A Índia é um inferno, é desumana, é injusta, é pobre, pobre, pobre, é miserável. Ah, e a propósito, é preciso ter muita fé para ser Gandhi. É preciso mover montanhas ou saber contar quantos seixos habitam o rio.
3 - Esta noite, a liberdade
Este livrinho dos excelentes Dominique Lapierre e Larry Collins (também autores de outras jóias da história do Século XX como "Oh, Jerusalém" e "Paris já está a arder?"), tem muito do que é preciso saber sobre o assunto da Independência da Índia. Para além da morte de 2 millhões de pessoas em 48 horas e o êxodo esfomeado de mais dez milhões de almas, o relato é colorido por quatro terríficos personagens: Lord Mountbatten, como Rei Artur em desespero de causa; Gandhi, que interpreta o feiticeiro Gandalf, Nehru que faz de Fausto e o inevitável Jinnah, que se sai muito bem na pele do Diabo. A Liberdade, claro está, acaba por custar os olhos da cara. Seja como for, este é um belo livro para levar para a praia.