terça-feira, novembro 06, 2007

Santos

Está claro que o tempo perdido é parisiense.
Nenhum sonhador lisboense
se preocuparia com o lado de Guermantes
e até o bom do Swan subiria a penantes
por esta rua alva incendiada da prantos,
travessa que atravessa o bairro de Santos.

O que cantava o outro sobre as manhãs de Setembro,
digo eu de Novembro.
Esta claridade de Lisboa, este S. Martinho Sem Frio
iluminado de céu e de rio,
este choque cromático entre o branco e o azul:
é uma quimera de Sul.

O poeta da tarde mais tarde que a tarde física,
esqueceu-se da metafísica.
É numa manhã assim, numa manhã madrugada,
transparente e tatuada
de sombras acesas contra o triunfo da luz,
que nos salvamos da cruz.

E o maluco do alemão que foi vender ao diabo
a sua única flor de nabo,
nunca acordou em Lisboa nestes dias de Outono
que nos roubam o sono,
que nos devolvem a glória e o oxigénio.
Aqui, senhores, é o sol que é o génio.

E quem diz que é no Verão mais fácil a vida,
ainda não desceu esta avenida.