quinta-feira, dezembro 19, 2013

A boutique da lei.



Em Portugal, os advogados não podem investir em publicidade. Podem ser corruptos, podem ser manhosos, podem ser incompetentes, podem ser ladrões, mas não podem (ou não devem?) vender publicamente os seus serviços. Em Portugal, acha-se que a advocacia está acima destas coisas do comércio, como se os advogados não fizessem o seu corso como qualquer outro ser humano. Serão os advogados porventura mais sérios, mais desinteressados, mais impolutos, do que os gestores de empresas, os directores de marketing, os gestores de produto, os vendedores de automóveis ou os retalhistas de electrodomésticos? A sério?
Na verdade, a razão de fundo que inibe aos advogados a possibilidade de divulgação dos seus serviços está no interesse dos escritórios multi-milionários, que não precisam de facto de divulgar seja o que for porque lhes basta terem como clientes os governos da república. E para esse mercado alvo, a publicidade não serve. Servem outros meios, outros métodos e outros investimentos, geralmente bem mais infames que a proverbial campanha publicitária.
Ora estas senhoras aqui decidiram enfrentar o status quo com um filminho que é de gosto duvidoso mas de eficácia garantida. E eu acho-lhes alguma piada, para ser muito sincero. Gosto da competência em mini-saias e da maquilhagem em slow motion. Enternece-me o decaimento para o cat walk nas ruínas do antigo palácio da justiça e o kitch Prada em saltos altos dá-me sorrisos. Aprecio a coragem que estas raparigas mostram sinais de ter, por baixo da mini-saia e da maquilhagem e do gosto duvidoso. E aplaudo sobretudo o verdadeiro pontapé no estômago que aplicaram na comunidade de mortos-vivos que é a sociedade portuguesa.
Parece que a advogada em chefe, quando trabalhava para a televisão pública, tinha um jaguar como carro de serviço (preciosa informação gentilmente cedida pelo Público). Se isto é verdade, esta doutora é uma deusa. É preciso ter muita pinta para sacar um jaguar aos mandarins da RTP.