O céu nocturno, carregado, mal disposto, ilumina-se subitamente com as luzes que não se apagaram nos outros bairros de Lisboa. As nuvens desfilam, em farrapos de alta velocidade e, de vez em quando, uma ou outra estrela consegue brilhar sobre o tempo e o espaço para vir fazer parte da claridade e da escuridão.
Devia ter sempre comigo uma lista de coisas que se podem fazer sem electricidade.
Sem electricidade parece que a vida pára. E eu não sei viver assim, apagado. Enquanto a lanterna do telemóvel durar sobre a urgência da bateria, posso ir escrevendo este movimento do tempo parado, mas e depois?
A cidade que tem luz ignora-me; a cidade que a EDP poupou ao drama é indiferente para com o cidadão desprovido de fotões e continua animada de brilhos e barulhos que não deixam sossegar a madrugada.
O Eixo Norte-Sul deve estar a gozar comigo.
E o Mexia pode ir para a puta que o pariu.