segunda-feira, março 27, 2006

Inimigos: uma história de amor.

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"I didn't want to harm the man. I thought he was a very nice gentleman. I thought so right up to the moment I cut his throat."
Perry Smith

Não deixa de ser uma coincidência do diabo, mas ao iniciar um novo género de romance - a que chamou non-fiction novel - Truman Capote deparou logo com dois dos mais intrincados problemas da epistemologia da literatura. O problema número um foi ter-se apaixonado pelo personagem central da sua história, coisa indigna de um romancista direito e fraqueza que lhe tolheu a criatividade para nunca mais (In Cold Blood foi a última coisa que conseguiu terminar). O problema número dois foi Perry Smith não estar disposto a morrer exactamente quando Capote precisava que ele morresse. De tal forma que a obra-prima estava pronta, sem que, lamentavelmente, se lhe pudesse dar um fim. É claro que uma dor de cabeça derivou da outra, já que foi a imprudente paixão do autor que possibilitou ao condenado os recursos para ir protelando a inevitabilidade da forca. Mas a moral da rábula é mais paradoxal que prosaica: no limite da transcendência novelesca encontramos um conflito de interesses entre o amor e a morte. Que é como quem diz: entre a literatura e a vida.