sexta-feira, março 17, 2006
A verdadeira história de Adão e Eva.
Contrariamente ao conceito enraízado na cultura religiosa ocidental, a parra de Adão não lhe serve apenas para esconder as partes pudendas, antes resultando em justa parte da necessidade de esconder a presença (ou ausência) de uma outra, mais inocente, localidade fisiológica: o umbigo. Rubens, o autor da magnífica representação que acabo de desgraçar, não se lembrou de equacionar este pormenor, mas se Deus "formou Adão do pó do solo e soprou nas suas narinas o fôlego de vida"; e se Eva foi gerada a partir da costela desse homem iniciático com recurso à mais bárbara cirurgia (Adão estava a dormir quando lhe foi tirado o orgão) e fazendo um draconiano uso eugénico da engenharia estaminal (Eva é concebida para servir Adão), se um e outro não tiveram afinal vida uterina, PARA QUE RAIO PRECISAVAM ELES OS DOIS DE CORDÃO UMBILICAL? O umbigo de bom mamífero que Adão e Eva exibem distraídos pelos diversos palcos da semióptica judaico-cristã é de gargalhada, sendo que todo o mito criacionista sofre de plágios, é de fraquinha veia criativa e foi bastante infectado de paradoxos que vão da idiotia à comicidade. Não se percebe, por exemplo, como o criador presenteia os seus monstrinhos com generosos MOTORES SEXUAIS (proporcionalmente mais desenvolvidos do que na generalidade dos restantes mamíferos) só para depois os castigar, quando eles tomam CONHECIMENTO DA MECÂNICA. Como num conto de Mary Shelley, Adão e Eva são uns verdadeiros frankensteinzinhos que acabam por se virar contra o Pai, e daí a imperfeição ontológica para toda a posteridade. Boa desculpa para um aprendiz de feiticeiro que não soube simplesmente fazer a experiência como deve ser. Até porque houve nitidamente qualquer coisa que não correu bem e isso é natural. O que não é natural, nem moral, é deixar essa responsabilidade cair nos ombros dos QUASI MODO ACABADINHOS DE SAIR DA REDOMA. E, ainda por cima, condenar a infeliz descendência do casal primevo ao caos barbitúrico, ao desastre físico-químico deste BUG que é existir. Parece-me até isto uma infâmia, senhores! Mais a mais, um mito roubado às gentes da Mesopotâmia, Senhoras! Independentemente da qualidade literária da metáfora, à luz do Genesis acho mesmo que não tivemos sorte nenhuma com o DEUS-ASTRONAUTA-ESTAGIÁRIO que nos pariu em laboratório de má ciência.