domingo, junho 01, 2014

Ópera do Oeste Gelado.






Mesmo quando contracena com os glaciares do Alasca,
James Maitland Stewart é um homem enorme. O corpo dele é astronómico.
Todo o Klondike encolhe um pouco
de cada vez que o herói anti herói entra em cena.

O herói anti herói que não quer saber senão de si e que não está cá para
mariquices e que não deixa que uma merda de um juíz bandido
lhe fique com o gado.

O herói anti herói que não é objector de consciência, desde que lhe seja o gatilho útil
ao interesse próprio. Não há causas nobres. E muito menos
em Dawson City, causa plebeia, canadiana, fim da linha para a febre do ouro.

E se a avalanche cair sobre quem foi avisado da possibilidade de uma avalanche,
de que vale voltar atrás para cuidar dos pobres
imbecis?

O espectador tem paciência com o herói anti herói porque
o James Maitland Stewart é maior que a tela.
Se não fosse o tamanho do James Maitland Stewart, toda a gente ia  achar que ali
estava um vilão. Mas um vilão não pode ser assim
tão grande.

No entretanto, vão caindo mortos os que estão ali para serem inocentes e
não é de frio que caem. É a tiro de bala.

O herói anti herói porém, não parece lá
muito comovido. E o espectador que expecta, paciente, a justa vingança,
impacienta-se. Mas não dúvida. Ao gigante resta apenas ser o bom
gigante.

Chegará enfim o fim e, para alívio grato e genuíno da audiência, o herói
anti herói encontra a inevitável redenção, a tiro de bala.

E tudo por causa de um sininho de latão, que tilinta pela paz
irrecuperável.




The Far Country (1954) de Anthony Mann, com James Stewart, Ruth Roman, Corinne Calvet, Walter Brennan