terça-feira, outubro 20, 2015

Da poesia chinesa.

Wang Yuchon

Wang Yuchon não se importava com as coisas do mundo,
mas gostava de patos.
Um dia encontrou um velho taoista 
que o convidou para sua casa.
Entregou-lhe um rolo de papel branco
e pediu-lhe que caligrafasse o Tao Te Ching.
O mestre utilizou o pincel com o talento dos imortais,
acabou, recebeu uns patos como recompensa,
meteu-os no seu cesto e foi-se embora.
Esqueceu-se de dizer adeus.

Li Bai (701-762)
Trad. António Graça de Abreu


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Da guerra

Apeio-me do cavalo num antigo campo de batalha.
Cobrem-me inteiramente as ervas selvagens,
o vento geme, as nuvens deslizam,
em torno de mim tombam as folhas ressequidas.
As formigas correm céleres sobre as ossadas.
As plantas trepadeiras enlaçam os crânios vazios.
Caminho longo tempo e suspiro a cada passo
perante o horizonte desolado.
Que sejam malditas as guerras e os combates,
terror dos jovens e dos velhos.
Aqui jazem no mesmo pó
tanto os generais como os soldados.
Diz-se: tiraremos a desforra,
havemos de vencê-los amanhã.
Mas nos campos desertos vagueiam, sós,
velhos cobertos de farrapos e a morrer de fome.

Du Fu (712-770)
Trad. António Ramos Rosa