À medida que o Contra me tem levado ao convívio com um nicho social que nunca foi o meu - o das pessoas que habitam as ante-câmaras do poder político - confirmo uma convicção antiga e uma suspeita moderna.
A convicção que cristalizo é que a Terceira República não é reformável. A cultura institucional é a do compromisso, dos "cuidados a ter", da cautelosa e melindrada praxis que tem mais interesses do que princípios e mais cosmética que substância. E, salvo raras e honrosas excepções, não há partidos que não sejam assim povoados por gente pragmática, que desvaloriza ideais em função de resultados.
(Convém não esquecer que a definição académica da actividade política é a da arte de conquista e manutenção do poder e é até pela escolástica que devemos começar, se pretendemos discutir novos modelos de governação dos povos, mas isso é outra conversa).
A suspeita que confirmo como facto é que o ContraCultura faz alguma comichão a essa específica fauna que, mesmo subscrevendo ideologicamente o seu manifesto editorial, considera a publicação excessivamente radical, para ser conveniente às suas diversas agendas.
Ora, acontece que o Contra, para ser do Contra, terá mesmo que ser alérgico a esta gente e nesta gente criar alergias. Até pela constatação que faço no segundo parágrafo: se a Terceira República não é reformável, os seus agentes não podem ser aliados de um projecto que pretende precisamente desafiá-los.
Daqui resulta que a honestidade de propósitos que deu vida ao ContraCultura permanece pristina. Algo que muito me satisfaz a consciência.
E sim, o Contra será sempre radicalmente dissidente e intratável. Serei invariavelmente fiel a esse espírito independente e dificilmente assimilável por agendas alienígenas.
A este propósito devo também alertar a estimada audiência que a crítica que o Contra tem feito à actual administração americana, que tem deixado contrariados alguns dos seus leitores, não tem tendência para afrouxar, muito porque a Casa Branca está a tomar decisões e a dar sinais de divergência em relação ao seu mandato eleitoral, num crescendo exponencial, principalmente no que concerne à política externa.
Por esses desvios deve ser denunciada.
O Contra tem respeito e consideração máximos pelos seus leitores, que estima. Mas não publica para legitimar convicções alheias. Publica para defender princípios consagrados no seu manifesto editorial.