terça-feira, abril 29, 2025

Sobre o apagão.

Eu estou no Alentejo e tive muita sorte porque não há melhor sítio para se estar durante um apagão, por várias razões que mais tarde evocarei, mas que são evidentes por si próprias.

Estava ainda por cima a tentar desligar-me do mundo, dentro do possível, e a coisa deu-me motivos também óbvios para mais desligado ficar.

Mas o incidente, oneroso para além do que neste momento podemos mensurar, pôs em evidência as vulnerabilidades da rede eléctrica europeia, que se deteriorou em resultado da guerra de sanções em curso com a Rússia e de políticas de emissões nulas absolutamente deficitárias e claramente ensandecidas, que, entre outros crimes contra o bom senso e o bem-estar dos povos, encerraram muitas centrais eléctricas tradicionais e nucleares.

Ficámos também a saber que há hospitais públicos sem geradores capazes, que o Porto está mais bem servido de centrais eléctricas do que Lisboa, que o gerador do Metropolitano de Lisboa não debita a voltagem suficiente para levar uma só composição até à estação mais próxima e que as pessoas na Europa entrem em pânico passadas duas horas sem telemóvel.

Ficámos acrescidamente conscientes (se possível fosse sermos da evidência mais conscientes ainda), que a 'desinformação' é o produto de excelência da imprensa corporativa, no momento em que, com redes sociais caladas, a CNN e o Observador, por exemplo, correram para nos revelar que o desastre eléctrico era da responsabilidade do Kremlin, ou quando a Reuters, do alto do seu pedestal de "agência noticiosa de referência" sugeriu, de forma tão irresponsável como espúria, que o restabelecimento do serviço eléctrico iria durar cerca de uma semana.

Ficámos a saber, enfim, quão risivelmente frágil é a civilização ocidental.

O que ficamos sem saber é que raio sucedeu e eu desconfio bem que nunca na verdade saberemos sobre isso.

São estes os países que querem guerrear a Rússia. Quando mal conseguem salvar os desgraçados que guardam em cuidados intensivos.