quinta-feira, julho 17, 2025

Rir: é o melhor remédio.

Em definitivo, Donald Trump foi consumido pela febre luciferina do poder. De tal forma que acontecem coisas absolutamente irreais como esta: no outro dia, declarou em entrevista à sua nora Lara Trump que estava "satisfeito" com os resultados da investigação à tentativa de assassinato de que foi vítima no comício de Butler, a 13 de Julho de 2024.

Vamos ouvi-lo:

 
Convenhamos. Isto só dá para rir. Porque não vale a pena chorar por alguém que se perdeu no quinto dos infernos.

Para todos os efeitos, esta investigação que satisfaz plenamente o Presidente norte-americano não satisfaz nenhum dos seguintes pontos*:

– A casa de Thomas Crooks foi limpa profissionalmente, de tal forma que nem mesmo talheres foram deixados para trás;
– O atirador, um jovem de 20 anos, não tinha qualquer presença na internet, nem contas de rede social, a não ser contas de mensagens encriptadas criadas em países estrangeiros;
– Crooks Foi figurante num anúncio da BlackRock; a gestora de fundos cujos quadros reconheceram que “seria benéfico para elas se Trump fosse assassinado”;
– Nenhuma agência de segurança ou inteligência norte-americana apresentou um relatório formal sobre a ocorrência;
– Nenhuma agência de segurança ou inteligência norte-americana realizou qualquer conferência de imprensa onde fossem detalhadas todas as informações que obtiveram e em que ponto está a investigação;
– Apenas alguns factos avulsos e desconexos, convenientes para a narrativa oficial do atirador isolado, foram divulgados pelo FBI;
– Crooks era um miúdo, mas tinha um telémetro (usado para medir distâncias), explosivos, detonadores e armas de fogo de uso militar como a AR-15 que utilizou para atingir Trump;
– A CNN transmitiu em directo o comício de Butler. Foi o único comício de Trump que a estação de Atlanta reportou ao vivo;
– Os Serviços secretos não permitiram que os seus agentes subissem ao telhado onde Crooks se colocou para tentar assassinar o candidato republicano, porque era um plano alegadamente muito inclinado e por isso perigoso, mas os atiradores que acabaram por matar o suspeito encontravam-se num telhado bem mais inclinado;
– Os serviços secretos tinham conhecimento de uma "ameaça classificada" dez dias, 10, antes da tentativa de assassinato de Butler, mas não informaram os agentes destacados para o corpo de protecção a Trump sobre essa ameaça.
– A direcção dos Serviços Secretos tinha sido por várias vezes informada de que o corpo de protecção a Trump estava desfalcado em qualidade e quantidade de agentes, mas recusou-se a responder a apelos no sentido de colmatar esses problemas;
– Os snipers das forças de segurança detectaram a presença do atirador pelo menos 42 segundos antes deste ter disparado sobre o ex-presidente;
– Trump permaneceu no palco, completamente desprotegido, durante os momentos que decorreram entre a identificação do suspeito e o tiroteio;
– Variadíssima pessoas que se encontravam no comício viram Crooks, que se movimentou livremente no telhado onde se encontrava, e apontaram-no por repetidas vezes durante os 30 minutos que antecederam o tiroteio;
– A segurança no comício da Pensilvânia foi visivelmente negligente em comparação com um comício anterior;
– Sem ser sobre o assunto inquirida, a CIA decidiu negar que Thomas Matthew Crooks alguma vez tenha sido submetido ao programa de controlo mental MK-Ultra;
– Crooks tinha 5 telemóveis, um desses telemóveis terá viajado várias vezes dos escritórios do FBI em Washington D.C. para onde o atirador residia;
– Nos primeiros dias da investigação, o FBI declarou que os telemóveis de Crooks estavam de tal forma encriptados que os técnicos da agência não conseguiam aceder aos seus dados, que nunca foram divulgados publicamente;
– O seu corpo foi imediatamente cremado, impossibilitando analises forenses independentes;
– O aspirante a assassino tentou alistar-se no clube de tiro do seu liceu, mas foi rejeitado porque a sua pontaria era “comicamente má”, mas o disparo que feriu o candidato republicano teve acerto profissional e foi desferido a 150 metros do alvo;
– Uma análise forense de áudio efectuada por Catalin Grigoras, director do National Center for Media Forensics da Universidade do Colorado, em Denver, e Cole Whitecotton, investigador profissional associado sénior da Media Forensics, sugeriu a possibilidade de um segundo atirador;
– Momentos depois do atentado, há pelo menos três testemunhos captados em vídeo que falam de um segundo atirador, estrategicamente colocado no Reservatório de Água da Butler Farm. 
– Dan Bongino, o actual director adjunto do FBI e um dos responsáveis pelo briefing que deixou Trump "satisfeito", fez carreira e fortuna a acusar, no seu podcast, o Estado profundo de estar envolvido na tentativa de assassinato do então candidato republicano, testemunhando até sobre as suas diversas e conspirativas suspeitas numa audiência no Congresso.

É mesmo preciso que uma pessoa esteja completamente doente dos neurónios, ou completamente refém daqueles que o tentaram matar, para dizer que está satisfeito com uma investigação que não explica nada disto.

Num caso como noutro, é assustador ter este homem como inquilino da Casa Branca. 

Na análise aprofundada de Viva Frei que deixamos em baixo, é examinada a repetida afirmação do presidente Trump de que está «satisfeito» com os relatórios do FBI, dos Serviços Secretos e do Departamento de Justiça sobre a tentativa falhada de assassinato no seu comício em Butler, Pensilvânia, e por que essa única palavra esconde mais perguntas do que respostas. 

O pundit canadiano reproduz clips importantes para a equação, analisa as pistas verbais e de linguagem corporal por trás das seis vezes que Trump se declara "satisfeito" e compara o teatrinho com a reportagem explosiva de Susan Crabtree sobre ameaças confidenciais, falhas no posicionamento dos snipers e a decisão dos Serviços Secretos de excluir do seu perímetro de segurança o telhado inclinado do edifício onde Crooks se encontrava.

Desde as suspensões sem remuneração dos agentes mais incompetentes, que são uma punição insignificante, até aos gestores de nível sénior recompensados com promoções, Frei explica como as várias camadas de incompetência (tantas que são implausíveis) ou, pior ainda, um conluio para "deixar acontecer" colocou a vida de Trump em risco.  

* Links para verificação dos factos enunciados nesta lista serão inseridos num texto análogo que será publicado no ContraCultura na sexta-feira.