quarta-feira, maio 29, 2019

Auto-stops ao contrário.

Se o fisco pode recrutar a GNR para fazer auto-stops de cobrança coerciva das dívidas ao Estado, os cidadãos também deviam poder, por maioria de razão e na justa medida, recrutar a mesmíssima força militar para cobrar coercivamente as dívidas do Estado.

Sim, a GNR também devia montar estaminés nas auto-estradas deste país, de radar alerta para a passagem dos topo de gama em que se deslocam veloz e confortavelmente os altos quadros das entidades públicas desta República, de forma a que:

a) Recebam imediatamente o produto das suas facturas as empresas e os empresários em nome individual que costumam receber do Estado dentro de prazos que desobedecem flagrantemente ao que é estipulado pela lei;

b) Sejam prontamente ressarcidos os contribuintes que andam há anos e anos a pagar a corrupção, a incompetência, a incontinência ética e a desonestidade escandalosa do sector bancário (público e privado); que andam há anos e anos a pagar a torpe avidez de ministros, consultores, advogados e outros muitos abutres do Estado; que andam há anos e anos a pagar as comissões nacionais para isto e para aquilo e que só servem para empregar militantes dos partidos do arco do regime; que andam há anos e anos a serem triturados pela burocracia dos serviços públicos, mal tratados pelo serviço nacional de saúde, injustiçados pelo aparelho judicial e espoliados pela máquina fiscal, a única inventada em toda a história de Portugal que de facto funciona tão bem ou melhor que um motor Mercedes.

c) Aufiram em tempo real de compensações fiduciárias os eleitores que, nas últimas 4 décadas, foram aliciados com vãs promessas de prosperidade e de competência e de responsabilidade e de sentido de estado e de amor à pátria e que, ao invés, foram apenas sujeitos à falácia, ao engano, à aldrabice, à ganância, à traição e à conjura da oligarquia que de facto reina sobre este miserável, lamentável, inexplicável país;

d) Encaixem já verbas indemnizatórias aqueles que foram penhorados sem apelo; aqueles que foram paralisados na possibilidade da iniciativa económica; aqueles que foram e são insanamente taxados, multados, controlados, manipulados; aqueles a quem o Estado português, essa grande e disfuncional indústria do clientelismo mais grosseiro, esse monstro retrógado e simplex de complicações, prejudicou em absoluto, material ou imaterialmente.

No dia em que o Estado for uma pessoa moral, pode fazer os auto-stops que quiser. Até lá, quem deve fazer parar esta merda toda somos nós, os portugueses que tentam viver com decência e com um mínimo de sentido ético, apesar da constante, intrusiva, cigana e maquiavélica presença do Estado em cada mínimo detalhe das nossas vidas.