A maioria dos papers de pesquisa científica que são publicados apresentam falsos resultados. É mentira? Não. Num famoso ensaio que até já data de 2005, John P. A. Ioannidis demonstrou estatisticamente que a afirmação é verdadeira.
Sendo que a margem de erro aceite pela comunidade científica ronda os 20%, a verdade é que a percentagem de negativos e falsos positivos ultrapassa largamente esse limite e pode até atingir valores inversos (80% de papers que apresentam conclusões erradas, 20% que apresentam conclusões certas), dadas as condições entrópicas ideais, como a presença de preconceitos, a multiplicação de variáveis em análise, um número acima da média de teses erradas antes da publicação, etc.
É arrepiante perceber que, apesar dos métodos de controlo como o peer review ou os algoritmos monitores implementados electronicamente, o erro se dissemina desta forma massiva no corpo documental das disciplinas exactas, impactando directamente a sua virtude epistemológica.
Considerando que a operacionalidade e evolução da Ciência depende do acerto das suas publicações, principalmente no que diz respeito à pesquisa e à aquisição de data, estes números são assustadores. Tanto mais que têm um resultado também contraproducente junto dos públicos leigos. Se as fontes estão erradas, como é que o jornalismo e o ensaio de divulgação científica podem transportar para os leitores uma ideia correcta dos temas específicos que abordam, e da Ciência em geral?
Um assunto de monumental importância, articulado com profundidade, e algum optimismo (para pessimista já basto eu), pelo impecável Derek Muller.