terça-feira, julho 28, 2020

O assunto parangona que não passa de rodapé.

 
Neste artigo do NYT podemos ler um incrível parágrafo: 
 
"Mr. Davis, who now works for Aerospace Corporation, a defense contractor, said he gave a classified briefing to a Defense Department agency as recently as March about retrievals from off-world vehicles not made on this earth. (...) Mr. Davis said he also gave classified briefings on retrievals of unexplained objects to staff members of the Senate Armed Services Committee on Oct. 21, 2019, and to staff members of the Senate Intelligence Committee two days later."
 
Este Mr. Davis é o Dr. Eric W. Davis, astrofísico doutorado pela Universidade do Arizona, investigador de sistemas de propulsão no Institute for Advanced Studies de Austin e CEO de uma empresa - a Warp Drive Metrics - que presta serviços de consultadoria para a NASA e o Pentágono, para além de ser, conforme nota o NYT, colaborador da Aerospace Corporation, um dos principais fornecedores californianos de consultadoria técnica para missões espaciais. Portanto: não é um palhaço qualquer. Não é um avatar anónimo. Dado que trabalha para as instituições que acabei de referir, também não se trata de um professor excêntrico ou de um atrasado mental. E, apesar de ter bastante a perder e nada a ganhar, deu a cara para ser citado num artigo do New York Times, afirmando que brifou o departamento de defesa americano e representantes do comité de inteligência do senado sobre materiais recuperados de veículos alienígenas. Mais a mais, até agora, ninguém o desmentiu.
 
Num mundo são e normal, o headline da notícia seria retirado do excerto que acabei de trancrever e não construído à volta de uma vaga especulação sobre o que vai ou não vai o Pentágono fazer num futuro indeterminado com o seu dossier sobre Objectos Voadores Não Identificados, que é provavelmente um "nothingburger". Num mundo são e normal este artigo seria "breaking news" em todo o lado. Como claramente não vivemos num mundo são e normal, a notícia passou completamente despercebida e aquele que é, talvez, o mais credível testemunho de que, alínea a, existem outras civilizações no universo e de que, alínea b, somos visitados por elas, redundou num silêncio mediático que é, no mínimo, preocupante sobre o estado hipnótico em que se encontram as sociedades contemporâneas: por um lado, a overdose informacional dos dias que correm leva a uma total ausência de curiosidade, enquanto a falência de credibilidade de orgãos de comunicação social outrora sacrossantos conduzem à mais diletante indiferença. Por outro, assuntos irrelevantes são projectados como de importância existencial ao mesmo tempo que as questões mais profundas sobre a condição humana e o seu enquadramento ontológico no cosmos são marginalizadas para o rodapé insignificante do que não está na agenda mainstream (leia-se: racismo e políticas de identidade, homofobia e guerra dos sexos, justiça social e equalização marxista, covid-19 e normalização da opinião pública).
 
Eu não sei se o universo abriga outras civilizações capazes de estabelecer contacto connosco ou não. E mesmo que outras civilizações existam, não sei sequer se o contacto e a comunicação entre inteligências com origens planetárias diferentes será possível, dadas as distâncias inconcebíveis no espaço e no tempo, os limites da física no que se refere ao trânsito cósmico e as divisões biológicas, antropológicas, linguísticas e culturais que concerteza nos separam de seres provenientes de localidades remotas e ecologicamente díspares da nossa. Já acreditei mais nisso do que acredito hoje em dia, e cada vez mais desconfio que estamos mesmo sozinhos (por sermos os únicos ou por estarmos condenados à solidão por um universo onde a interacção é interdita ou muito improvável). Mas a minha ignorância só alimenta a curiosidade e o meu pessimismo nunca vencerá a vontade de saber mais. E eu quero saber mais sobre aquilo que o Dr. Eric W. Davis sabe ou não sabe. E não, não consigo entender porque raio é que esta notícia não é a Notícia do momento.