Naquele tempo, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Então os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram: “Que faremos? Este homem realiza muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação.”
Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse: “Vós não entendeis nada. Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?” Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus.
João 11:45-56
Os movimentos conservadores e semi-conservadores do Ocidente nunca foram tão diversos, o que é uma chatice porque a direita (se a expressão ainda for válida), quando precisava de se unir, nunca esteve tão dividida.
Eu próprio, situando-me ideologicamente na área conservadora-libertária-populista, permaneço incapaz de cristalizar simpatias e teimosamente dissidente.
Permitam-me que explique a tendência renegada, classificando estas múltiplas seitas do panorama político contemporâneo.
Da esquerda para a direita, temos os liberais clássicos, que vivem ainda no século XX, e que continuam a pensar que residem em perímetros republicanos, democráticos e de estado de direito, onde o capitalismo protege a livre iniciativa e opera segundo regras de mercado não corporativas. Estes deviam ser rapidamente empurrados para uma piscina no Ártico, para ver se acordam do seu sono de décadas.
Depois há os neo-liberais que se fingem de centro-direita e que, com os conservadores só de nome, infectam de mãos dadas com a esquerda e a extrema-esquerda os corredores do poder na Europa e nas américas. Este grupo é geralmente constituído por burocratas de sector público, tecnocratas do sector privado, membros dos conselhos de administração das grandes corporações, bilionários, generais, políticos e comissários partidários.
De seguida encontramos os conservadores só de nome. Herdaram uma casa senhorial no Douro mas acham que o progresso é ter travestis na hora do conto. Ensinam aos filhos que são racistas enquanto empregam seis imigrantes ilegais para fazer o trabalho de uma mulher a dias, ao mesmo preço dessa mulher a dias. Guiam teslas durante a semana e jaguares ao domingo. Têm vergonha do dinheiro que têm e da família que o ganhou, mas isso não impede as férias em Chamonix e a residência na Beloura.
Estes três grupos são na verdade os primeiros inimigos da civilização, porque não há pior raça que a do traidor.
Depois há os conservadores sionistas. De uma maneira geral são tipos que têm os valores no sítio certo, mas abrem uma excepção aos seus princípios para se entusiasmarem com o rebentamento de casamentos na Síria, o genocídio na Palestina, a libertação do caos na Líbia, as guerras eternas no Médio Oriente. Apesar de já terem lido os evangelhos, na diagonal, esquecem-se que Jesus Cristo foi levado à cruz pelos fariseus, gostam de falar na "tradição judaico-cristã" e acreditam que Israel é uma "lança em África". Deviam tomar os medicamentos.
Em intersecção com o segmento dos conservadores sionistas, encontramos o clã dos conservadores russofóbicos, que não acreditam que o muro caiu há trinta e tal anos e ainda entretêm o tédio com a ameaça soviética. Sofrem, regra geral, de um problema de dissonância cognitiva: acham que os mesmos comissários da imprensa corporativa que lhes mentiram sobre a pandemia estão agora a dizer-lhes a verdade sobre a guerra na Ucrânia.
Num nicho muito estreito e quase fora do espectro, temos os conservadores monárquicos, que anseiam pelo regresso de D. Sebastião e a restauração do Quinto Império. D. Sebastião era retardado, o Quinto Império nunca foi imaginado para se plasmar na realidade, Portugal teve em seis séculos de monarquia não mais que três reis decentes e esta gente, sem bem que escassa, devia dedicar-se ao bilhar de três tabelas.
Nesta lista temos ainda os conservadores libertários, que na Europa nunca existiram, em África estão a ser etnicamente dizimados e na Austrália perderam os testículos, mas que são ainda relativamente fáceis de encontrar nas Américas. Basicamente são pessoas que se estão nas tintas para tudo o que seja exterior à sua herdade, gostam de disparar as suas armas automáticas contra latas de cerveja e desde que não paguem muitos impostos e que as filhas não casem com engenheiros da Google, não chateiam ninguém.
Depois há os conservadores populistas, que, por sua vez, se dividem em três subgrupos. Um deles é o dos populistas sempre-Trump, sempre-Bolsonaro e sempre-Ventura, que perderam o sentido crítico quando de repente perceberam que o Ocidente se tinha transformado no inferno que projectavam nos outros e entraram naquele estado de pânico que propícia credos messiânicos. Este populismo personalizado é útil nas urnas, mas para além disso mostra-se deveras insuficiente.
Outro subgrupo é o dos populistas racionais, como o do eleitor do AfD, na Alemanha ou do Vox em Espanha. São conservadores genuínos e intratáveis, cristãos na sua grande parte, que percebem perfeitamente o que está a acontecer ao Ocidente e aos seus valores, mas que mantiveram a lucidez e sabem que confiar num político para defender os seus interesses é como pensar que a prostituta está apaixonada pelo cliente. Porém, dada a sua tendência para racionalizar a realidade, caem frequentemente no erro de separar a religião da política e mantém uma visão da vida e da sociedade excessivamente materialista.
Por fim, temos os populistas nacionalistas. Na Rússia são 90% da população, sendo também muito comuns na Europa de leste (a ortodoxia cristã está muito ligada a esta facção ideológica), nos EUA, no Reino Unido, em França, em Itália e - pasme-se - podem até ser encontrados, sem bem que em menor proporção, em Portugal. As figuras de proa do movimento nacionalista serão Orbán, Le Pen e, talvez, Farage. Trump intersecciona claramente estes dois subgrupos e daí a sua popularidade imensa.
Muitos destes nacionalistas são novos nacionalistas. Quero eu dizer, porque foram encostados à parede da irrelevância pelos sistemas corporativos do leninismo-globalismo e estão a ser substituídos demograficamente a um ritmo que percebem como uma ameaça existencial, encontraram nos valores pátrios um fundamento para o seu combate.
Outros, uma minoria de nacionalistas antigos, são saudosistas de Salazar ou de Franco, ou de Mussolini ou de pior ainda. Por força da pressão neo-liberal, omnipresente desde o desenlace da II guerra-mundial, não contam para o totobola.
Mas se o nacionalismo é compreensível - ainda que merecedor de cerrado inquérito - em cidadãos de países relevantes, não se percebe muito bem o nacionalismo dos portugueses.
Que valores transcendentes encontramos neste país perdido? Será legítimo sermos orgulhosos de nós próprios porque um povo com o qual já nada partilhamos a não ser débeis laços genéticos decidiu jogar-se ao mar para fazer filhos e comprar mercearias no outro lado do mundo, há cinco séculos atrás?
E para além da gesta marítima, picaresca sem dúvida, mas perdida já nos interstícios da história, que outros grandes valores temos que nos fortaleçam no combate espiritual e cultural que temos pela frente? A língua, franca mas decadente, de que somos péssimos guardiões?
Portugal é o cão mais obediente que Bruxelas tem na trela (os portugueses são dos povos mais vacinados do mundo). Os governos à esquerda e à direita que temos tido são servos ideais do aparelho leninista-globalista. Somos pobres, ignorantes e servis. Voltámos as costas ao atlântico para estender a mão aos tiranos da Comissão Europeia, sem por isso deixarmos de ser o anús da Europa. Nem sequer nos damos ao trabalho de ter filhos e agradecemos até o facto de estarmos a ser substituídos por paquistaneses.
Que sentido faz ser-se nacionalista em Portugal? Que exemplo dá este país a si próprio? Que valores afinal simboliza? Que liberdades representa? Que heróis rasgam o caminho, que legado deixam para a frente?
Boa poesia, boa comida e Verão em Outubro não são canhões que cheguem para defender esta trincheira.
E deixando de bater no ceguinho: os americanos que consideram a sua nação digna de com ela fazer ideologia, olvidam, consciente ou inconscientemente, que a ideia da América, um dos mais efémeros impérios de que temos registo histórico, matou, contando com uma guerra da independência, uma guerra civil, duas guerras mundiais e incontáveis conflitos regionais, mais gente que tártaros, nazis e estalinistas, encontrando-se estatisticamente em competição directa com o maoísmo no campeonato mundial dos genocídios.
Os Estados Unidos da América constituem hoje uma das principais, se não a principal, ameaça à paz e à civilização.
Os franceses dão quase tanta pena como os portugueses, sendo que a ilusão em que vivem varia apenas, mas dramaticamente, na escala. A França desfaleceu desde que as tropas mecanizadas de Hitler entraram pelo país a dentro como faca escaldada em manteiga, e não voltou a acordar do seu sonho imperial desde aí. É uma nação muçulmana, mais que cristã, liderada por ateus que venderam a alma ao diabo.
Os ingleses, que foram autores do mais bem sucedido império da história da humanidade, são hoje uma espécie em vias de extinção, fascizada e domesticada, que já nem o refúgio do pub conseguem garantir.
E podia continuar interminavelmente. Não há no Ocidente contemporâneo motivos válidos para o amor à nação, essa mãe por todo o lado inveterada.
Ao contrário, o que não faltam são munições retóricas, triunfos morais e argumentos irredutíveis em favor da humanidade e do bem supremo, nos ensinamentos de um apátrida, nazareno mal amado na Nazaré, judeu condenado por judeus, israelita arrependido, de voz universal.
Não encontramos legado mais nobre do que aquele que subiu ao pior suplício romano para nos salvar dos nossos erros, o messias que recusava o poder dos césares e a tirania dos sacerdotes, sem trono na terra e reinando sobre o cosmos.
Porque só há uma arma efectiva contra Satanás, não posso, em boa verdade, dizer mais que isto: A minha pátria é Jesus Cristo.