Primeiro, o Departamento de Justiça anunciou que o ex-diretor da CIA John Brennan e o ex-director do FBI James Comey são alvos de uma investigação criminal federal sobre o seu papel no caso da “conspiração russa” que foi utilizada até à exaustão contra Donald Trump, entre 2016 e 2020.
Logo depois, Tulsi Gabbard, a directora de inteligência da Casa Branca desclassificou documentos que, segundo a própria, constituem provas de que a administração Obama ensaiou um golpe de estado em 2016, fabricando a história do conluio russo para tentar impedir Donald Trump de aceder ao e exercer o máximo cargo político da federação, para o qual tinha sido mandatado eleitoralmente.
Nesta conspiração também estariam implicados nomes sonantes do aparelho de poder democrata e do Estado profundo como Susan Rice, James Clapper e John Kerry.
A máquina propagandista do regime logo difundiu a ideia de que até Barak Obama podia ser preso, com Donald Trump a publicar vídeos de inteligência artificial mostrando o ex-presidente a ser algemado na sala oval, só para 24 horas depois reconhecer que, graças até a uma decisão do Supremo emitida precisamente a propósito da perseguição judicial de que foi alvo por parte dos democratas nos dois anos que precederam as últimas presidenciais, é praticamente impossível acusar, com sucesso, Barak Obama de actos que cometeu enquanto Presidente.
Posteriormente, a directora da Inteligência dos EUA tirou da cartola mais um coelho negro, afirmando que, também em 2016, a ex-candidata presidencial Hillary Clinton estava "num regime diário de tranquilizantes pesados", sofria de perturbações psíquicas e que essa situação era do conhecimento do Kremlin.
É claro que as consequências de tudo isto serão zero. Ninguém vai prender ninguém. Alguns deste personagens serão talvez, no máximo dos máximos, incomodados com audiências no Congresso que vão dar em nada ou processos judiciais que a nada vão dar, mas que vão servir entretanto para distrair atenções e sugerir que a administração Trump está a cumprir com o seu mandato eleitoral, mesmo que contra todas as evidências.
No fim de semana passado, Dan Bongino, o director adjunto do FBI, publicou no X esta críptica mensagem:
Durante o meu mandato como Director Adjunto do FBI, tenho-vos relatado repetidamente que estão a acontecer coisas que podem não ser imediatamente visíveis, mas que estão a acontecer. O Director e eu estamos empenhados em erradicar a corrupção pública e a instrumentalização política das operações policiais e de inteligência. É uma prioridade para nós. Mas o que aprendi no decurso das nossas investigações devidamente fundamentadas e necessárias sobre estes assuntos mencionados chocou-me profundamente. Não podemos governar uma República assim. Nunca mais serei o mesmo depois de aprender o que aprendi. Vamos conduzir estas investigações justas e adequadas de acordo com as regras e a lei. Vamos obter as respostas que TODOS MERECEMOS. Como acontece com qualquer investigação, não consigo prever onde irá parar, mas posso prometer-vos um esforço honesto e digno em busca da verdade. Não a "minha verdade" ou a "tua verdade", mas A VERDADE.
Uma mão cheia de areia para os olhos. Que coisas horríveis observou Bongino que o "chocaram profundamente"? Que insustentáveis mecânicas governam a república? Que verdade é essa, tão objectiva que não é minha, nem tua, nem dele?
A conferência de imprensa em que o alto quadro do FBI prestará os devidos esclarecimentos já foi marcada para o dia de S. Nunca à Tarde, na capital do País de Alice.
During my tenure here as the Deputy Director of the FBI, I have repeatedly relayed to you that things are happening that might not be immediately visible, but they are happening.
— Dan Bongino (@FBIDDBongino) July 26, 2025
The Director and I are committed to stamping out public corruption and the political weaponization…
No correr desta semana, caiu outra alegada "bomba": Kash Patel informou o mundo que encontrou, escondidos numa "sala secreta"um conjunto de sacos com documentos que deviam ter sido queimados, mas que alguém se esqueceu de queimar, e que contêm mais dados de inteligência sobre o conluio russo. A história da sala secreta não é novidade, já que o próprio Patel tinha dito em Junho deste ano a Joe Rogan que tinha descoberto esse compartimento. Mas que novos dados são esses?
Saberemos também deles, mais à frente na estrada de tijolos amarelos que vai dar ao fim do arco-irís.
Enquanto isso, Donald Trump desmultiplica a sua política externa em viagens e negociações e ameaças e avanços e recuos, que hoje são assim, amanhã são assado, mas que surgem invariavelmente apresentados pelo aparelho mediático ligado à Casa Branca como triunfos sensacionais: A Rússia tem 30 dias para fazer a paz, mas depois só tem 12. Caso contrário sofrerá sanções que agora são de 500%, que logo a seguir serão de 100%. O regime Zelensky também sofre com as variações de humor da presidência norte-americana. Por um lado é um ditador corrupto. Por outro é uma vítima do imperialismo russo. Agora não recebe mais armas americanas. Daqui a nada recebe-as por interpostos países europeus, a quem os americanos vão vender armas precisamente para esse fim. Já Benjamin Netanyhau passa de herói a bandido, de príncipe perfeito a genocida, de oito em oito horas, com a imprensa trumpista a conseguir noticiar as vilanias e as santidades do primeiro-ministro sionista sem escangalhar o tom épico.
No campo económico, Trump conseguiu redimir Keir Starmer, com um acordo comercial sensato, só para humilhar von der Leyen, com o mais desvantajoso negócio da história da Europa. Os dois casos, porém, cumpriram o objectivo de rebentar com manchetes.
A vontade quotidiana de criar novas narrativas, de espoletar histórias sensacionais, de esconder a qualquer custo o mastodonte magenta que está sentado no sofá amarelo da sala oval, chegou a este ponto: circulam neste momento em Washigton rumores que Donald Trump quer ter acesso aos ficheiros classificados do dossier OVNI para os desclassificar e tornar públicos, de forma a passar a ideia de que é o homem que diz a verdade aos americanos.
Pausa para a gargalhada.
Isto depois de, logo em Fevereiro deste ano, ter traído a promessa eleitoral de divulgar a verdade sobre o célebre e intrigante caso dos "Drones de New Jersey, afirmando que os milhares de enigmáticos avistamentos se relacionavam com operações no espaço aéreo autorizadas pela FAA e que os objectos não identificados “não eram o inimigo”.
Esta ideia de que o encobrimento histórico sobre o fenómeno, que transcende largamente a esfera de poder dos políticos eleitos nos EUA, vai ser terminado por um Presidente que nem sequer consegue saber por que razão e em que circunstâncias o tentaram matar no Verão passado, está muito para além de ser disparatada, mas serve, de novo, a esta agenda de gasear as bases com desinformação a rodos.
É verdade que a presidência de Donald Trump será tudo menos aborrecida. E que o inquilino da Casa Branca continua a oferecer à plateia uma actuação enérgica, considerando a sua idade. Mas reinar assim, com operações psicológicas e manobras de diversão, com promessas vãs e encobrimentos vários, com máscaras e disfarces, com assobios para o lado e gritos no Truh Social, com ameaças que não intimidam, elogios que não agraciam, impropérios que não ofendem e mentiras que não enganam, é comprometer o reinado para além do limite da sua viabilidade.
Na melhor das hipóteses, Donald Trump corre neste momento o sério risco de ficar para a história como um ilusionista. Na pior, como um vil ilusionista.