#26 - Head On The Door - The Cure
Ainda em 1985. Na minha modesta e, bem
sei, polémica opinião foi esta banda que inventou o movimento
alternativo que vai rebentar nos próximos cinco anos desta década. Não
me venham com Joy Division ou coisa que o valha: o arame farpado sobre o
cimento cru nas paredes do Incógnito foi inventado pelos The Cure. O
género deprimido de adolescente vestido de preto que não gosta dele nem
de ninguém foi inventado pelos The Cure. O dedo do meio mostrado
aos futuristas e aos punks e aos metaleiros e à popalhada toda dos
charts de vendas e aos parvos da MTV e a toda a gente que pudesse achar
piada à bela vidinha burguesa ou problemático o complicado penteado de
Robert Smith, esse dedo explícito foi mostrado de forma mais exuberante e
felina, desconcertante e corajosa por estes senhores.
E o disco
que gosto mais deles é este. "Head On The Door". São grandes canções atrás de grandes
canções, completamente novas, completamente fora dos cânones da altura e
quase invariavelmente donas de um balanço fabuloso, intrincadamente
tricotado por riquíssimas harmonias melódicas e um impecável trato
estético.
Next.
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#27 - Script Of The Bridge - The Chameleons
Lamento, mas temos novamente que voltar atrás. Peço que me perdoem os
constantes soluços cronológicos mas este disco aqui, que na minha pobre
cabeça estava localizado mais à frente no tempo, é de 1983, afinal.
A
verdade é que os The Chameleons estavam de tal forma virados para a
vanguarda dos seus dias que nem deviam perceber a necessidade de um
retrovisor. Só pode ser.
"Script Of The Bridge" é o primeiro disco
deles, mas é uma obra com tal poder, com uma convicção tão forte, com
uma confiança artística de tal forma exuberante que podia bem ser o
último.
Pós-punk de alta voltagem, desalinhado e grandioso, como um strob na caverna do futuro. Bum.
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#28 - Heartbeat City - The Cars
Este disco está dentro de mim e esta banda é tão de companhia da minha
juventude que é difícil falar dela e se calhar é melhor estar calado e
deixar que os The Cars façam a sua coisa maravilhosa.
E se escolho o
mais sofisticado e aprazível "Heartbeat City", de 1984, podia com a
mesma paixão eleger outro álbum anterior: Rick Ocasek está no Olimpo dos
meus heróis pop-rock e é assim.
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#29 - Eliminator - ZZ Top
Não há maneira de sair da meia década dos anos 80. Mas, dê lá por onde
der, estes hipsters antes do tempo, estes grandes e bem dispostos
malucos, têm que constar desta lista-armadilha de que nunca mais vou
escapar. Claro que a maior parte dos fans de ZZ Top preferirá o
iniciático "Tres Hombres", residência paleolítica e lendária de "La
Grange", mas eu elejo "Eliminator", de 1983. Por causa do que os
senhores conseguiram fazer com um Ford Coupe muito velhinho que tinham
para lá a enferrujar na garagem, claro,
mas também porque é um poço sem fundo de grandessíssimas malhas. Nunca
dois barbudos tinham até aqui conseguido fabricar tanto bom barulho
eléctrico, desta maneira incessante. De "Gimme All Your Lovin" a "Legs"
há toda uma juke box a rebentar com a escala cromática que vibra entre o
folk e o hard rock. Sim, este disco é bastante comercial. Mas eu não
gosto de música por ser comercial ou alternativa. Eu gosto de música. E
gosto de ZZ Top. É como é.
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#30 - This Is The Sea - The Waterboys
Senhoras e senhores, The Waterboys. Os dois lados da lua convergem num
único e épico plano inclinado, há uma rapariga chamada Johnny, um
espírito que transcende a música e a velha Inglaterra, que apodrece. Há
fenómenos poltergeist que ocorrem com arrepiante frequência na arte
destes irlandeses barra escoceses que se juntaram por causa do folk
céltico mas que acabaram por ser grandes no rock, partindo do arriscado
princípio que o rock é um ritual de feitiçaria saxã, interrompido e complementado por poemas que podiam ter sido escritos na península helénica por volta do século quatro antes de Cristo.
O disco que escolho é “This Is The Sea”, mas o critério é o mais básico
possível: por ser o álbum que reúne um número maior de máximas canções
da banda. No caso: “The Whole of the Moon”, The Pan Within", “Don’t Bang The Drum”, “Spirit” e “Old England”.
Olho para a capa deste disco e percebo tarde demais que não é uma capa de um disco. É uma sacana de uma máquina do tempo.