Nesses saudosos tempos, o chamado "eleitoralismo" era duramente criticado, como se agradar aos cidadãos votantes de uma determinada república ou monarquia constitucional fosse um pecado capital.
No século XXI, porém, as coisas mudaram radicalmente. Os políticos actuais não só governam em função de interesses e valores que não são de todo os dos seus constituintes, pelo contrário, como actuam com total indiferença perante a opinião pública e as pesquisas de intenção de voto.
Repare-se no exemplo que vem das três primeiras (ex-)potencias europeias: No Reino Unido, Keir Starmer recolhe a aprovação de 11% dos britânicos. 11%. Isto é um recorde absoluto de impopularidade de um primeiro-ministro neste século e é preciso recuar até 1977 para encontrar este nível de insatisfação, direccionado a outro primeiro-ministro trabalhista, Jim Callaghan.
Desde que foi eleito que aquilo que os eleitores pensam dele não tem parado de piorar. Mas alterou o inquilino do nº 10 de Downing Street o seu comportamento, em função dessa queda na consideração dos seus compatriotas? Nem pouco mais ou menos. Podemos até argumentar que a cada dia que passa, Starmer governa em desfavor dos cidadãos britânicos em crescendo de intensidade, com mais impostos sobre uma economia já em colapso, com mais imigrantes despejados num tecido social à beira da ruptura civil, com mais repressão sobre o discurso, com mais autismo sobre as necessidades e anseios dos cidadãos, com mais agressividade na direcção de uma guerra com a Rússia, nascida de uma ameaça completamente inventada.
Starmer governa contra os britânicos, como se não fosse eleito por eles.
Em França, as coisas não são nada diferentes. Mesmo nada. Emmanuel Macron será o mais odiado presidente da quinta república gaulesa, com exactamente os mesmos 11% de aprovação do eleitorado. Um recorde absoluto, embora partilhado com o socialista François Hollande, que também chegou a ser assim mal amado em 2016.
🇫🇷 Macron’s approval has collapsed to 11%, the lowest for any French president in decades pic.twitter.com/FRT4MF9krh
— BRICS + World (@BricsPlusWorld) December 8, 2025
Sente Macron esse desgosto de não ser querido pelos seus concidadãos? Tenta o presidente Francês tomar medidas e espoletar políticas que o devolvam à consideração do eleitorado? Nem por sombras. Presidindo a uma dívida pública catastrófica, a um país fragmentado entre o seu legado cristão e a invasão muçulmana, e ao caos institucional do regime, que o levou a indigitar qualquer coisa como 4 governos num ano apenas (ou coisa que o valha - já perdi a conta), de forma a permanecer no poder, o anão napoleão tem como prioridade única, também à semelhança de Starmer, o incondicional apoio à Ucrânia e o incontornável ódio à Rússia, contrariando até a tradição histórica e cultural do seu país, que sempre procurou alimentar relações sólidas com Moscovo.
E o que é que a sagração das fronteiras ucranianas tem a ver com os interesses dos franceses? Nada. E está Macron preocupado com esse desfazamento entre as aspirações dos seus eleitores e a sua performance presidencial? Nadinha.
Na Alemanha, Friedrich Merz, que ainda nem oito meses de mandato cumpriu, já bateu também um mínimo nacional. Nunca um chanceler alemão tinha assim tão pobremente sido avaliado: apenas 22% dos alemães avaliam positivamente o seu trabalho.
#Germany
— TheEqualizer (@ColoniumKoeln) December 4, 2025
In a recent opinion poll, German Chancellor @_FriedrichMerz has the worst approval ratings ever recorded for a German chancellor in German history!
76% of Germans disapprove of his policies. Warmongering clearly doesn't pay off.https://t.co/QTO0hH24Qm pic.twitter.com/Lw9ndoX4ue
É claro que, como elitista/globalista/criminoso da alta finança que é, não seria de esperar que Merz estivesse excessivamente preocupado com a opinião pública. Mas podia pelo menos mostrar preocupação com o país que foi incumbido de governar.
A Alemanha navega as águas insalubres de um contínuo declínio económico, com números de desemprego assustadores (num país que, historicamente, quando tem muitos desempregados cria problemas monumentais a nível global), produção industrial em queda livre, crise energética auto-infligida, índices de actividade criminal em assustador crescendo, como resultado da imigração desregrada, e perda de influência económica e política a cada dia que passa.
E que faz Merz? Exactamente o mesmo que os seus congéneres francês e inglês: quer levantar uma economia de guerra. Quer mobilizar "o maior exército da Europa." Quer fazer a Guerra à Rússia, se não para já, ainda esta década.
E para não nos alongarmos a aprofundar as semelhanças com as políticas do homem do bigodinho, que também combateu uma profunda crise económica com a industrialização de guerra e a formação do mais poderoso exército da Europa, há que voltar a fazer a pergunta, se bem que meramente retórica: o que é que os alemães ganham com o apoio cego ao regime ucraniano? E que benefício tirariam da III Guerra Mundial?
(Alguém que explique a Merz, com palavras simples como se ele fosse uma criança retardada, o que é que aconteceu à Alemanha nas duas guerras mundiais da História Universal).
A verdade é que não é por acaso que estes três inveterados globalistas desenvolvem políticas que nada têm a ver com os interesses dos seus respectivos eleitorados, e que agem como se nem quisessem saber disso para nada.
Eles têm a perfeita consciência de que na Europa já ninguém vive em democracia e que os interesses, valores e aspirações do eleitorado são de facto irrelevantes para as lógicas de poder.
Convinha que os cidadãos europeus percebessem isso, também e de uma vez por todas.
Convinha que as pessoas percebessem que lhes é permitido ainda o voto, mas que já não são representadas.
Convinha que agissem em conformidade, por exemplo: levando a abstenção a valores insustentáveis para a legitimidade dos intérpretes do poder político (ou, quando possível, votando em partidos radicalmente dissidentes), recorrendo à desobediência civil, recusando a vontade de guerra dos seus líderes nas ruas, em números excessivamente significativos para serem ignorados, boicotando iniciativas de carácter globalista como a identidade digital e a moeda virtual, rejeitando produtos e serviços das empresas que alinham a 100% com o regime corporativo e o entretenimento e a desinformação das máquinas de propaganda regimental, e etc.
Porque alguma coisa de muito grave vai acontecer daqui a nada, se continuarmos a dormir em serviço, agora.
Isso é certo.

