Quem ouve a Oitava Sinfonia de Beethoven chega facilmente à conclusão que a obra foi escrita por um homem feliz. Tchaikovsky - ele mesmo, tão egoísta em elogios - escreveu sobre esta obra prima o seguinte: "It is the last bright smile, the last response, given by the poet of human sorrow and hopeless despair to the voice of gladness".
Acontece porém que, à época da sua composição, o Mestre vivia, como sempre viveu, em fúria e dor e danação. Atirado para a casa do seu irmão Johann em Linz, com o propósito de curar uma feroz intoxicação alimentar, cedo descobre que o desgraçado se perde em delícias e volúpias com a criada de quarto. Beethoven desaprova o desagravo social com unhas e dentes: faz tudo o que lhe é possível para exterminar a relação bastarda, incluindo queixas à polícia e protestos no bispado.
Contrariando a austera vigência moral do seu irmão mais velho, Johann arranja maneira de casar com a criada da noite para o dia, e é por isso que rebenta a Oitava Sinfonia.