domingo, agosto 15, 2004

Os Sonetos da Cidade Fantasma - Canto I


Acordei um dia na cidade deserta,
com Lisboa só para mim, calma,
tranquila, sem sinais de viv’alma,
nua de gente, ausente e aberta.

Das avenidas novas até à solidão,
só com semáforos por companhia.
Eis a silhueta da cidade vazia:
natureza morta em tela de betão.

Deitei-me no asfalto - à revelia;
fui voz única no eco dos viadutos.
fui enfim deus de mim por um dia.

Soltei gargalhadas nas praças,
fui mijando pelos aquedutos
e, juro-vos, fui feliz p'ra caraças!