sexta-feira, julho 08, 2005

O terror vencedor.

Nas últimas quarenta e oito horas, eu vi: um gajo esquizofrénico na Escócia, de capacete, bandeira greenpeace e farda para o combate, arremessar pedregulhos contra polícias que iam fugindo como podiam. E homens e mulheres (cujo pecado capital será dirigirem-se para o emprego que têm em Londres) assassinados, decepados, feridos, aviltados, aterrorizados por um outro esquizofrénico, que, se tivesse livre acesso ao tecido multicolor, também gritava Quioto. Só me faltou o bom do Geldorf, que devia organizar um concerto a favor das vítimas da paz.
O mundo, como roda hoje, dá vontade de vomitar.

O Inverno de Vivaldi.

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É natural que escape ao ouvido, mas não pode fugir ao escrutínio de quem quer saber: Antonio Vivaldi foi ordenado sacerdote aos 25 anos (1703) e em 1737 (34 anos depois) é acusado pela igreja de, muito simplesmente, nunca ter celebrado missa. Quem se dá ao delírio de ouvir repetidamente o Alegro non molto do Inverno deste mestre, percebe bem que não existe Deus nenhum na alma do homem. Nas palavras de Vivaldi (e em sua própria defesa numa carta endereçada ao Marquês de Montivoglio): "Posso sair para passear depois do jantar, mas nunca vou a pé. Esta é a razão pela qual nunca celebro missa." E, na mesma carta, de forma ainda mais lapidar: "Estive em Roma três vezes para estrear uma ópera em tempo de Carnaval, mas nunca celebrei lá missa."
Este bom, velho, nobre, hipocondríaco e virtuoso bocado de ser humano soube fazer sempre o exercício necessário para ganhar o seu lugar na história da humanidade. E - como é claro - nada disto está directamente relacionado com um Deus estúpido que - para além de não existir - é imerecedor de uma caminhada. E indigno de um concerto em Roma. Mesmo em tempo de Carnavaladas.
Vivaldi, treinado e orquestrado para ser devoto, mandou a igreja para o diabo que a pudesse em boa hora carregar. E, perdendo nenhum tempo com coisas insubstantivas como dizer a missa, dedicou-se alegremente a compor a música que, 3 bons séculos depois, ainda diviniza as quatro mutações da natureza.