quinta-feira, dezembro 07, 2006

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2 - Elogio da Sociedade da Informação

“Nuclear war would really set back cable.”
-TED TURNER-


Imaginem a vida sem telejornal. Sim, pensem lá um bocadinho neste cenário maluco. Não se sabe que tempestade tropical humilhou a administração Bush. Não se sabe que este anti-artista chamado Nelson é capaz por facto de marcar aquele golo em Old Trafford. Não se sabe, aliás e basicamente, nadinha que transcenda o horizonte imediato. BreakingNews: a batata está a crescer benzinho. O Manuel da Vinha sovou a mulher. O prior vomitou outra vez na tasca do Vitor dos Traçadinhos.
Imaginem, por um instante, uma sociedade que não é a da informação.
Imaginem que vivem em Paris e só sabem do Terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755 no dia 6 de Janeiro ano seguinte. E onde é que estavam no dia em que as torres gémeas sofreram da infâmia do mundo? Não podem saber. Não calculam ao certo. Só tomaram consciência da ignomínia para aí umas três semanas depois, por causa de um primo que estava em Nova Iorque e que escreveu a tranquilizar a família. Imaginem, se for possível, que o conhecimento da Tsunami do Indico chega um mês depois de ter acontecido a desgraça.
A história do homem antes da CNN é uma coisa enorme e misteriosa: como é que é viver neste mundo sem saber para além da província? Como é que é não nos preocuparmos com a fome no Sudão? Quem é que consegue viver sem saber, em tempo real, quantos soldados americanos por minuto é que estão a morrer no Iraque? Existe de facto alguma guerra que possa ser feita sem correspondentes de guerra? É possível agredir se a agressão não seguir pelo tubo que dá caminho para todas as casas do mundo? É admissível a redenção que não salva em directo? É justificável condenar alguém de aqui do bairro que não seja culpado perante o mundo todo? É plausível o aquecimento global se não for rúbrica recorrente na grande reportagem? Perceberíamos alguma coisa do caos sem que, com diligência profissional, nos informassem dele?
Seríamos reciclados, seríamos deitados fora; seríamos sábios, seríamos ignaros, o que seríamos, o que seria de nós audiências, sem o pivot das notícias do mundo, esse grande protector da verdade de plástico?
Imaginem a vida sem telejornal. E deêm graças por Ted Turner.