domingo, janeiro 14, 2007

Paul Valery - "Mas o que é que me prova que exista unidade na natureza?"
Einstein - "Um acto de fé."


F. BRADUEL - GRAMÁTICA DAS CIVILIZAÇÕES


(3) A pergunta fundamental que resultou da primeira tentativa de Einstein para explicar as leis de funcionamento do cosmos - a Teoria da Relatividade Restrita - foi esta: se, como Newton defendia, os corpos celestes se atraem, como é que ainda existe um universo? Certamente que sem uma força que compensasse a atração gravítica, as galáxias acabariam por se esmagar umas contra as outras. Que força poderosa, desconhecida e maçadora estaria então a salvar o universo da implosão?

Depois de ganhar umas simpáticas rugas de sábio e mais uns carismáticos cabelos brancos de druída, Einstein tirou da sua cartola de Merlin uma solução lindíssima, apoiada em facto nenhum que tivesse até aí sido observado na natureza ou experimentado pelo engenho humano: a Constante Cosmológica ou Lambda.

Para Einstein, o Lambda seria uma constante de energia no vácuo, um fluído de matéria primordial que compensaria o efeito gravítico dos corpos celestes e manteria o universo ordenado e domingueiro, de que ele tanto gostava.

Assim, a Teoria da Relatividade Restrita, passou a Teoria da Relatividade Geral e, durante um breve período, o físico alemão passeou pela existência com a certeza de que tinha o cosmos todo muito bem explicadinho.

Lamentavelmente para ele, as observações de Edwin Hubble, uns anos depois, demonstraram que o Universo está, na verdade, em expansão. Leia-se: as galáxias estão constantemente a afastar-se umas das outras. Daqui resultou que o fenómeno de repulsão se tornava desnecessário. O bom do Albert retirou rapidamente a constante cosmológica da equação, reconhecendo o erro e prosseguindo como se nada fosse.

Não sabia o sábio que errando, acertava.

As recentes medições da velocidade das estrelas que explodem a grandes distâncias, permitem concluir que estas se encontram não apenas em afastamento, como também em acelaração, sendo por isso e muito provavelmente impulsionadas por um força de natureza desconhecida.

Por outro lado, a análise do comportamento quântico das partículas, permite-nos hoje saber que o vazio cósmico está cheinho de matéria e anti-matéria, quadrilhões de partículas positivas e negativas que passam a a vida a surgir e a desaparecer, aniquilando-se mutuamente.

Essa força enigmática imanente no universo afinal existe. A física contemporânea voltou a chamar-lhe Constante Cosmológica. E o instinto de Einstein, mais que a sua ciência, permanece lendário.