quarta-feira, janeiro 28, 2009

A Conspiração Disney.


Talvez graças à popularidade dos guiões de Dan Brown e dos powerpoints de Al Gore e dos devaneios de Hollywood, nos dias que correm o assunto que está na moda parece ser o da teoria da conspiração. Chegam-me ao email uma quantidade delas por dia. Umas risíveis, outras armadas em sérias, mas todas com um ponto em comum: A administração Bush culmina um maquiavélico reinado de terror que terá durado desde que Moisés (um filho da puta) prometeu o mel à sua tribo esfomeada.

De todas elas destaco 3, pela sua comicidade:

1 - Comprometidos pela ausente relação de proporcionalidade entre as reservas de ouro e o papel monetário emitido desde o pós-guerra, embalados pelo atentado às torres gémeas (acto da responsabilidade da CIA), os Estados Unidos invadiram o Iraque porque Sadam Hussein estava a vender o petróleo em euros!


2 - O Cristianismo, e toda a anterior novela hebraica, é um plágio e uma fraude. Constantino, em Niceia, orquestrou a coisa de tal forma que Deus se tornou num ópio de consumo doméstico para auto-escravidão dos crentes. Cristo nunca chegou realmente a existir. A Igreja é uma máfia e as cruzadas e as fogueiras estão aí como prova.
A Administração Bush, a CIA, o FBI, as Forças Armadas, o Senado, o Congresso, as Autoridades de Controlo do Tráfego Aéreo, as seguradoras e mais algumas empresas de dimensão pan-satânica associaram-se à família real da Arábia Saudita para enganar a América e o mundo. Cumprindo um esquema muito bem montado por Darth Cheney, o príncipe das trevas, dinamitaram as torres gémeas e um cantinho do pentágono, escavaram um buraco no chão na Pensilvânia, fizeram umas fotomontagens manhosas e umas gravações piratas e venderam tudo aos media que engoliram a coisa a seco e vomitaram depois uma versão estranha dos acontecimentos: que uns fanáticos religiosos no médio oriente eram capazes de um horror assim. E tudo isto para quê? Para dominar o mundo!
E em conclusão: os banqueiros são todos uns bandidos e a Reserva Federal Americana é a sua fábrica de infâmias. Andamos para aqui todos alienados, hipnotizados, pelos poderosos deste mundo.

3 - O petróleo não é um combustível fóssil, cresce por geração espontânea dentro da terra e isto está provadíssimo desde o século XIX, só que o maléfico conclave do capitalismo ocidental e a família real Saudita (outra vez estes) estão há muito unidos para que a malta não saiba deste facto científico e continue a comprar a gasolina a preços escandalosos.

A cena cómica das conspirações tem a ver com o facto de ser pacífico para os seus inventores que segredos tenebrosos e manipuladores de dimensão olímpica possam permanecer ocultos do conhecimento das massas, durante gerações ou mesmo milénios. Isto até que o autor do revisionismo perceba tudo sozinho, num orgasmo messiânico de sabedoria transversal. A conspiração que revela está bem montada ao ponto de alienar o conhecimento académico e científico que é produto de séculos, mas bastaram-lhe umas horas de pesquisa no google para ficar por dentro da grande mascarada.

Estas conspirações ignoram fenómenos entrópicos como a mobilidade social, o escrutínio dos media, a estupidez humana, a disfunção grupal, a decadência das organizações, o carácter aleatório e indeterminado dos processos político-sociais; e sobre-valorizam a capacidade das instituições corporativas (forças de um grande diabo), contra todas as evidências da história. O seu maniqueísmo não permite margens de ponderação: há os bons e os maus e há um jugo destes sobre aqueles. Bem vindo ao mundo da Marvel Comics.

Geralmente, os documentos que me chegam revelam ignorâncias profundas dos temas que afloram. No primeiro caso, há um desconhecimento elementar dos fundamentos da política monetária e da história económica nos países ocidentais; no segundo, o autor parece ter decorado toda a matemática do universo mitológico humano, sem ficar a perceber nada sobre a sua semântica; revelando acrescidamente um total desentendimento da segunda lei da termodinâmica. No terceiro, que é o mais cómico de todos, a iluminária faz simplesmente tábua da ciência geológica contemporânea, entre outras ousadias de ilusionista.

Nalguns destes proféticos escritos, nota-se uma preocupação em comprovar a teoria com factos. Mas nunca há notas de rodapé que nos permitam confirmar a coisa, nem sequer algo parecido com uma bibliografia. Diz-se que de certeza que é assim e pronto, está provado, dada a credibilidade da fonte incógnita.

Ora, para demonstrar que é muito fácil parir, nuns minutos só, uma teoria da conspiração que pareça minimamente razoável, apesar dos fundamentos disparatados, deixo aqui esta que vou inventando à medida que a vou escrevendo:

No princípio não era o verbo. Era o Rato Mickey. O mundo como o conhecemos começou a 16 de Outubro de 1923, quando Walt Disney (que ainda vive) fundou a sua homónima companhia. Tudo o que está para trás é uma manobra multimédia dos seus estúdios, para nos fazer acreditar que não somos figurinhas de um filme animado. Como a animação em imagem real é muito trabalhosa, só temos fotografia e filme a partir do Século XIX.
A invenção da religião serve para procurarmos transcendência nas salas de cinema (os verdadeiros templos do nosso tempo) e não me digam que nunca repararam que Jesus Cristo foi construído à imagem e semelhança do Pato Donald. Já o percurso regimental das estruturas tribais ao capitalismo, foi estruturado pelos criativos da companhia apenas com o fim de legitimar o Tio Patinhas.
Todos os grandes fenómenos sociais ocorridos desde 1923 devem-se a interesses específicos da Walt Disney Company, isto está provado. A Segunda Grande Guerra, por exemplo, desencadeia-se por causa de um problema de direitos de autor: Hitler era um personagem há muito criado por Walt, mas que terá sido entretanto usado fora do contexto pelo atellier da Disney em Berlim.
A guerra fria foi pensada para barrar o acesso dos povos ocidentais à escola clandestina de animação dos países de leste. Vasco Granja bem que nos tentou mostrar o mundo lá fora, mas ninguém acreditou que aquilo fosse possível.
Bush filho é o alter ego do Pateta e a guerra no Iraque foi proposta por um assistente de Walt para resolver o problema de uma história que, nos anos 90, estava a chegar ao fim.


Agora vou fazer um powerpoint com isto e enviar para a minha lista de contactos.