segunda-feira, janeiro 05, 2009

Marcha de Castelo Bom


Foto de Susana Baptista

A Raia, castro olímpico e marciano,
de sangue francês e castelhano
estampado na portela.
Os canhões de Almeida dizem-me da guerra
e os ventos cerrados dizem-me da Serra
da Estrela.

Sobrevive um medo antigo nestas aldeias
fortalezas, fragas e ameias
de um reino perdido.
Em Castelo Mendo uma velhinha mora
que vende a Nossa Senhora
num cromo colorido.

O Artur olha para dentro da objectiva,
guarda um silêncio que me castiga
e diz que vê uma vagina.
Se não estivessem zero graus lá fora,
eu atirava-me agora
para a piscina.

Grande circo: deixo cair a alma no chão.
"Não faz mal nenhum Paixão,
ela vem ao de cima outra vez."
Cheguei com ideias de revisionista
mas afinal sou malabarista,
este mês.

Tantos anos de liceu e quatro de faculdade
não me ensinaram metade,
nem vencem o que aprendi.
Talvez por ter sido aluno mau
nunca me disseram: "genau!
wie heissen sie?"

Bebo mais um copo e o actor pede justiça:
"Vamos falar de piça!"
A conversa sobe de tom.
Tantos anos de liceu e quatro de faculdade
não guardam a verdade
de Castelo Bom.