quarta-feira, dezembro 22, 2010
Muito deve a Portugal a História Universal.
O romano desdenhava do povo
Que não sabia ser gerido.
E o castelhano deu sempre um novo
Alento ao ódio mantido.
Mas que diria o vil cronista,
Se este Portugal de nobres reis
Tivesse demorado a reconquista
Até ao Século Dezasseis?
Muito deve a Portugal a História Universal.
Imaginem que Camões, equivocado,
Por desgraça nascia em Zurique,
Ou que o Pessoa, azarado,
Visse primeira luz em Reijkiavic.
Nem espanto haveria no fado
Ou consolação no alambique,
Se Vasco da Gama caísse naufragado
Ao largo de Moçambique.
Muito deve a Portugal a História Universal.
Considerem por momentos o efeito
Caótico, o preceito imundo:
Leopoldo o belga, Príncipe Perfeito,
na vez de D. João Segundo.
Outrossim, o Brasil do índio e da minhota,
País tropical, informal em calção,
Trocando piropos na língua de Goethe,
Trauteando, por deus, o samba em alemão!
Muito deve a Portugal a História Universal.
Não houvera o santo português navegado
Até àquela última e antípoda milha
E o japonês nem saberia dizer obrigado,
Eterno mal criado no exílio de sua ilha.
Sem Portugal, não teria quem espoliar
O britânico, nem digestivo p'ra depois do coito.
Ao francês, faria falta quem fosse limpar
O vomitado do Maio de Sessenta e Oito.
Muito deve a Portugal a História Universal.
Como se não bastasse dar guarida
Aos conhecedores da boa mesa
(Não seria bem mais triste a vida
Sem o cozido à portuguesa?),
Ainda fomos salvar a Europa
Da constipação ética
De ter a Oeste o martelo e a tropa
De uma república soviética.
Muito deve a Portugal a História Universal.
E não será oneroso para todos nós,
Não será até um dispêndio alarve,
Aturar godos, bifes e esquimós
Nas praias do Algarve?
Feitas as contas, o saldo analítico
Demonstra por resultado esta penhora:
Estamos a pagar desde o Paleolítico
O que pedimos ao FMI agora.
Muito deve a Portugal a História Universal.
Vista a filosofia sob o prisma rotundo
Do nosso maravilhoso umbigo,
Para além de dar mundos ao mundo,
Convenhamos, Portugal é amigo.
Pensem nisto vossas mercês,
Se não há razão no que digo:
O Pai Natal é Português
E o Português é amigo.
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