Em caso de emergência, há que aceitar o caos.
É esquecer os heróis que não há e arranjar rapidamente um lugar na barca dos maus
Da fita.
Na ausência do colete salva-vidas, conhaque há-de servir muito bem
E não adianta chamar pela mãe
Que ficou em Londres, meia orgulhosa, meia aflita.
Mais cedo ou mais tarde, o naufrágio sempre acontece
E precisamente quando não há maneira de emitir uma merda de um SOS,
Que a sorte é maldita.
O melhor é ir preparado com um poema do Álvaro de Campos e uma camisola
De lã. Não vale a pena ir para o inferno com ideias de esmola
E cara bonita.
Em caso de emergência, há que aceitar o longe e a distância,
E, sobretudo, renegar a ambulância,
Não vá o barulho das sirenes acordar o diabo, que dormita.
No próximo icebergue saimos para as vantagens de um mergulho em pelo:
Nem o whisky precisa de gelo,
Nem o Willy se arrebita.
Acima de tudo, evitar o fútil pânico: se o bote mete água por todo o lado,
Não há remédio senão atravessar a nado
O Atlântico que se agita.