segunda-feira, junho 04, 2012

Jornal de Letras | Janeiro/Junho 2012

Inicio aqui, com 35 anos de atraso, o resgisto das minhas leituras. Como esta nova rubrica não tem compromissos retroactivos (a lista dos livros da minha vida até 2007 pode ser encontrada aqui, aqui e aqui), eis o que li entre Janeiro e Maio deste triste ano de 2012.

A Rainha Vitória - Jacques de Langlade - Publicações Europa América
Uma biografia pobre no estilo e discreta no conteúdo. Levei-a até ao fim porque vinha lançado pela leitura de "Os Três Imperadores" de Miranda Carter, a suculenta história dos três netos de Vitória (Eduardo VII, Guilherme II e Nicolau II) cujas desavenças levaram à eclosão da Primeira Grande Guerra.

No Coração Desta Terra - J. M Coetzee - Publicações Dom Quixote
Relato poderoso, na primeira pessoa, de uma fazendeira sul africana, solitária e sensível, que acaba por assassinar o pai. A critica tratou logo de estabelecer uma relação metafórica entre a protagonista e os negros colonizados e entre o pai dela e os brancos colonizadores, (o fardo do homem branco vem sempre a propósito), mas este romance vai muito para além da idiotia politicamente correcta.

O Corpo Enquanto Arte - Don DeLillo - Relógio d'Água
O meu primeiro livro de Don DeLillo. Não gostei nada. Mas, ainda assim, acredito que o homem tem mais do que isto para oferecer e tenho mais dois ou três romances dele na prateleira das leituras prioritárias.

A Viagem do Elefante - José Saramago - Caminho
Não é o melhor de Saramago, mas a crónica da viagem entre Lisboa e Viena empreendida pelo elefante que D. João III ofereceu ao Arquiduque Maximiliano da Áustria é uma muito simples maravilha.

História da Filosofia - 1º Volume - Dos Pré-Socráticos à Idade Média - Juan Manuel Navarro Cordon e Tomas Calvo Martinez - Edições 70
É a terceira vez que leio esta obra, que revisito desde os tempos de liceu, para combater o esquecimento. Faz-me sempre bem ler filosofia.

O Retorno - Dulce Maria Cardoso - Tinta da Cinha
Uma arrepiante narrativa sobre um tema tabu da Terceira República: o regresso a Portugal, forçado e caótico e humilhante, de meio milhão de portugueses, decorrente do processo de descolonização que se seguiu ao 25 de Abril. O melhor romance em língua portuguesa que li nos últimos anos. Inspirador.

Matadouro Cinco - Kurt Vonnegut - Bertrand Editora
A genial historieta de Billy Pilgrim, testemunha do pesadelo de Dresden, cobaia de extraterrestres e próspero optometrista. Um romance num milhão.

Bibliotecas Cheias de Fantasmas - Jacques Bonnet - Quetzal
Um livro para quem gosta de livros e tem muitos. A logística das bibliotecas e o labirinto da literatura. Muito bom.

História Natural da Destruição - W. G. Sebald - Teorema
Ainda embalado pelo romance de Vonnegut, deparo-me com este grave conjunto de ensaios de Sebald. No original alemão o livro chama-se Luftkrieg und Literatur (Guerra Aérea e Literatura), título que é eloquente por si só. Sebald dedica-se à tarefa ingrata de se perguntar porque raio é que a literatura germânica do pós-guerra é tão silenciosa no que diz respeito aos bombardeamentos massivos a que foram sujeitas as cidades alemãs no fim da guerra (Dresden, Colónia, Hamburgo, Berlim, etc.). Um livrinho bastante deprimente, que dá que pensar.