segunda-feira, agosto 13, 2012

A grande novela portuguesa.


Hei-de acabar por morrer proscrito,
sem nunca ter escrito
a estória de tudo, o pan-policial.
E de cada vez que penso nela,
é com uma nova novela
que sonho afinal.

No meu épico calhamaço que jamais
terá mil páginas ou mais,
o Pessoa ganha enfim um
Primeiro-Prémio-Nóbel, oscarizado,
por ter concebido e acabado
romance nenhum.

Hei-de acabar por morrer sem escrever
a suprema razão de ser
de um assassino inspirado,
que mata por ordem aleatória
com um poema-dedicatória
nos cadáveres afixado.

No meu marítimo, ítimo, ítimo conto-cais
com mil páginas ou mais,
Almada vende a alma ao diabo
p’los painéis da gare e uns tostões
p'ra pagar um copo ao Camões,
na dobra do cabo.

Hei-de acabar por morrer sem ter escrito
o derradeiro opus maldito,
definitivo fado de Portugal.
E de cada vez que penso nela
mais impossível fica a novela,
mais longe do final.