1912, Paris. Amadeu de Souza-Cardoso tem 25 anos e apresenta-se à comunidade artística da cidade luz com um assombroso conjunto de 20 bonecos que deixam os críticos completamente siderados. Os "XX Dessins" constituem um virtuoso ensaio gráfico a tinta da china e aguarela, que evoca vastos imaginários das tradições ocidental, oriental e africana; de D. Quixote às mil e uma noites. A obra está exposta integralmente na exposição do CAM - "Sob o Signo de Amadeu - Um Século de Arte" - e é simplesmente sublime.
Todo o restante espólio de Amadeu impressiona pelo talento exuberante e pela diversidade de referências e registos; e o que está exposto no CAM parece quase impossível de concretizar numa vida que durou apenas 30 anos, mas estes vinte desenhos são, para mim, especialmente maravilhosos.
Se Amadeu não fosse português, estaria ao lado dos imortais do século XX. Como teve a desgraça de nascer em Manhufe, ficou para sempre condenado à segunda divisão dos génios. É a vida. E, já se sabe, a vida é madrasta.