Enquanto a Rússia toma posse da Crimeia, a Europa e os Estados Unidos dão-se ao luxo da perplexidade. Obama fez um telefonema a Putin que, para além de ter funcionado como uma espécie de photo-op, serviu para largar umas poucas veladas e vagas ameaças, que não escondem a impotência e a mais absoluta ausência de carácter desta presidência. Nos aborrecidos corredores de Bruxelas, está ainda tudo demasiado abananado para fazer política e só Merkel, com o seu proverbial pragmatismo, consegue reagir. Com outro telefonema impotente.
Os Ucranianos, que fizeram a sua revolução com os ideais do Ocidente e as bandeiras da União Europeia, são por agora abandonados ao poder e à ambição de um Czar.
Convém lembrar a gentil audiência que os actuais argumentos de Putin para invadir a Crimeia (e que se estendem à reivindicação de toda a região oriental ucraniana), são exactamente os mesmos que Hitler utilizou para iniciar a Segunda Guerra Mundial: na altura, a necessidade de proteger a maioria étnica alemã no sudoeste da Polónia. Agora, a necessidade de proteger a maioria étnica russa no leste da Ucrânia. Foi aliás por razões também muito próximas destas que rebentou a sangria dos Balcãs.
Hoje como ontem, a incapacidade das nações livres de defenderem os seus valores civilizacionais dá muito mau resultado. Até onde estamos dispostos a ir, no caminho da infâmia, até que ponto continuaremos a insistir nesta cobardia de dar aos bárbaros e aos tiranos a rédea solta de que precisam para a prossecução das suas vilanias?