Está no ar, através do Observador, a opinião enfadonha e fútil desta rapariga cujo pseudónimo é Lucy Pepper e que é uma escriba insuportável.
Não é insuportável porque é inglesa, senegalesa ou de Freixo-de-Espada-à-Cinta. Por aquilo que eu sei dela, a rapariga pode ser nativa do inferno e isso, por mim, está muito bem.
Não é insuportável porque vive em Portugal, onde será sempre alienígena, onde será sempre irrelevante, o que é óptimo.
Não é insuportável por ter insuportáveis opiniões filosóficas, sociais ou políticas, porque não as tem, ou se as tem, são envergonhadas.
Não é insuportável por ser uma péssima ilustradora, embora nos pudesse poupar aos arabescos com que salpica a sua prosa, já de si inepta (em Português e em Inglês).
Não é insuportável da maneira que ela pensa que é insuportável: fazer laracha com Portugal é uma tradição mais antiga que o humor Inglês e ninguém pode realmente ser maldito por causa disso.
Lucy Pepper que, obviamente, nem sequer tem a decência de assinar as suas pequenas infâmias com o nome próprio, é insuportável porque é diletante, porque é destituída, porque é banal, aborrecida, pretensiosa e completamente desprovida do espírito que caracteriza invariavelmente os grandes da sua pátria (sendo certo que a rapariga pode ser inglesa tanto como pode ser canadiana ou boliviana ou libanesa, porque o anonimato é um dificultador da geografia política).
Lucy Pepper não é Lucy Pepper: é Stratford-Upon-Haven, sem Shakespeare; é Madam Foxtrot, sem ritmo; é Miss Shallow, sem redenção; é Lady Chatterley, sem amante; é Mary Poppins, sem chapéu de chuva;
é uma lástima, um íncómodo, uma irritante comichão num sítio que é impróprio nomear.
Lucy Pepper, cuja imaginação flutua entre o vácuo e o zero absoluto, está sempre a descobrir a pólvora: agora é porque Portugal não existe, depois é porque em Portugal comemos muitos ovos, a seguir é porque a calçada portuguesa dificulta a elegância dos saltos altos, antes tinha sido porque nos chamamos todos doutores e engenheiros uns aos outros e a seguir será porque somos uns fatalistas sem remédio, até que chegue O Prometido. O conjunto de banalidades espúrias com que a rapariga presenteia a audiência do Observador é verdadeiramente aterradora.
É claro que devemos sempre desconfiar de alguém que sai do seu país para ir viver noutro. A única razão válida para o fazer é a da subsistência e, acreditando que a dama Pepper é inglesa, o que está ainda por demonstrar, convenhamos: ninguém vem de Inglaterra para Portugal à procura de prosperar.
A este propósito, interrompo o discorrer da indignação para prestar homenagem à Inglaterra e aos ingleses, que recorrentemente conseguem correr com os seus nativos mais imbecis. A tragédia disto é
que muitos deles acham por boa ideia arrumar os seus tristes destinos na
minha pátria, que os recebe com a ansiedade do junkie e a gratidão do
mendigo.
Lucy Pepper, por exemplo, não passa de uma escriba sofrível, cuja mediocridade lhe deve ter impossibilitado a desejada coluna esperta no jornal local da desventurada aldeia que a pariu.
Lucy Pepper, na verdade, é uma espécie de produto de plástico em segunda mão, versão camone e mastigada do Miguel Esteves Cardoso dos anos noventa, doçaria apimentada e insonsa (gasp!), máquina incógnita de fazer conversa de chacha, inconsciente autora de coisas que já foram, labirintozinho redundante, coisa sem jeito nenhum.
Lucy Pepper, devo-lhe dizer o seguinte: passe o sal. E a seguir, por gentileza, vá bardamerda, sim?
Much Obliged.