sábado, novembro 01, 2014

Manhattan, ou o fim da inocência.



Um dos grandes momentos da televisão contemporânea, na minha mais que modestíssima opinião, é isto aqui. Até porque prova que uma pequena produtora, com um pequeno orçamento, pode ser capaz de materializar uma ambição inacreditável: a de criar uma telenovela sobre o projecto Manhattan, a coisa mais classificada - e maldita - da história da ciência. Não estou a exagerar: basta pensarmos que o governo americano conseguiu colocar, com algum sucesso e durante 4 anos, uma boa parte dos seus cientistas mais proeminentes (e respectivas famílias) num pequeno perímetro em Los Alamos, a trabalhar numa arma do apocalipse sem que ninguém desse por isso (bom, mais ou menos).
A história da feitura da bomba atómica supera em irrealidade qualquer conto de ficção científica e é claro que a produção da WGN se preocupa mais com os valores da audiência do que com a realidade histórica, mas ainda assim, concretiza-se um drama intenso e pungente, bem projectado por uma notável direcção de actores.
A certa altura, pergunta-se a uma das heroínas da estória: acreditas em Deus? E ela diz: "claro que acredito em Deus. Até o conheci pessoalmente. Chama-se Niels Bohr." Neste momento, qualquer pessoa que goste minimamente de televisão (seja ela televisionada ou não), qualquer pessoa que goste minimamente de ciência, não vai por certo perder o episódio que vem a seguir. Afinal, estes são os personagens que acabaram de vez com a inocência humana.
Muito provavelmente, esta vai ser uma série de uma temporada apenas, mas não faz mal. Porque esta temporada apenas valeu por anos luz.