O acto inominável de ontem, no coração de Paris, é o resultado de décadas de equívocos e absurdos, interpretados por líderes europeus incompetentes e irresponsáveis, em nome de valores humanistas que não se adequam de todo aos animais das tribos da jihad. Os perpetradores deste crime contra a civilização ocidental (e não apenas contra a liberdade de expressão), são, tudo indica, de nacionalidade francesa. Pertencem a uma comunidade islâmica em França que só muito relutantemente condenará o atentado bárbaro. Têm cadastro por crimes cometidos em nome do radicalismo islâmico. São muito nitidamente soldados profissionais, preparados para acções de assalto de máxima violência e intensidade mediática. Se fizeram o que fizeram foi porque o puderam fazer. Foi porque a França em particular e os países da União Europeia em geral, criaram condições políticas e sociais para que isto acontecesse.
Hollande, que correu para aparecer na cena do crime ainda os corpos das vítimas estavam a ser colocados nas ambulâncias, todo pressuroso e ávido da oportunidade imperdível de uma excelente photo-op, é o exemplo máximo da incapacidade e da hipocrisia e da cobardia com que se tem gerido o grave problema das numerosas e populosas comunidades islâmicas acampadas nos territórios da União Europeia. Mas quando a sinistra e inenarrável Ana Gomes responsabiliza as políticas de austeridade de certos governos europeus pelo crime hediondo de ontem; quando Paulo Magalhães - o lamentável moderador do "Política Mesmo" (TVI24) - pergunta a um convidado do programa se os cartoonistas do Charlie Hebdo não "se puseram a jeito" de serem fuzilados, procurando assim justificar o injustificável; quando por todo o lado e por toda a aprte o que vemos e ouvimos é gente cheia de escrúpulos étnicos, preocupada acima de tudo com a necessidade de poupar as comunidades islâmicas à justa crítica social; quando aqueles que se manifestam contra a islamização dos subúrbios de Paris, de Marselha, de Hamburgo, de Londres, são imediatamente rotulados de xenófobos e fascistas; quando as notícias de chacinas cometidas pelos demónios do profeta a nível global são relegadas para notas de rodapé, porque se trata de uma escola no Paquistão, de uma embaixada na Nigéria, de um mercado nas Filipinas - lugares cuja geografia remota nos ajuda a gerir o medo; quando nos recusamos a encarar o fenómeno do extremismo islâmico como algo mais que um conjunto de actos interpretados por um punhado de fanáticos amadores; quando perdemos de tal forma a noção completa da realidade - e da história - que não nos apercebemos da terrível ameaça que esse extremismo representa para a sobrevivência da nossa maneira de viver; quando somos os nossos primeiros e piores inimigos, tudo parece estar perdido.
Ontem, durante umas horas largas, tudo me pareceu perdido.