segunda-feira, novembro 23, 2015

Da Poesia Chinesa

Primavera em Wuling

Parou o vento. Até a poeira é perfumada.
Já é tarde. Não me apetece pentear-me.
As coisas estão aqui, mas ele, o homem, não - tudo acabou.
Ouvi dizer que no "Regato Duplo" é ainda Primavera.
Gostaria de ir até lá, andar numa barca leve.
Mas tenho receio que barca tão frágil
Não suporte o peso de tanto sofrimento.

Li Quingzhao (1081-1145)
Trad. Gil de Carvalho


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O Meu búfalo tem velhos cornos amarelelados,
o meu búfalo tem a cauda pelada.
Toco flauta, faço estalar o meu chicote,
levo o búfalo a pastar no campo.
Se está cansado, caminho devagar;
se está com fome, sabe que eu sei que está com fome.
Quando se levanta, canto uma ária;
quando se deita, durmo um pouco.
À noite durmo a seu lado, e ele aquece-me.
Sou um homem muito velho
que vive sem tormentos,
a não ser o medo de que o cobrador de impostos
me leve o meu velho búfalo e o venda.

Yu Qian (1398-1457)
Trad. António Ramos Rosa