quarta-feira, dezembro 16, 2015

Está quase.




Este cão vai morrer.
Está quase.
Já só falta Deus dizer: morre, cão.

Este cão é uma enorme parte da minha vida
e eu, sem ele, sou menos eu.

O Óscar, quando morrer, vai roubar-me um nome, pelo menos.
Vai roubar-me uma parte de mim e a parte que me vai roubar
é a parte feliz.

Ter um cão como o Óscar é como ter
um amigo perfeito.
E como ninguém tem isso,
eu era contente com o Óscar que tinha.

Estou a falar no passado porque o Óscar que tenho agora
é apenas um mortal que está è espera da benção última.

Porque o Óscar que tenho agora
é o sábio máximo.
Desconfio que o que ele quer mesmo,
realmente,
é morrer.

E nenhuma paz de túmulo
é capaz de merecer este cão.

A mortalidade do Óscar
é um argumento ontológico
a desfavor da existência de Deus.

O Óscar devia viver para sempre.

O Óscar devia viver para sempre.

O Óscar devia viver para sempre.

Puta que pariu os deuses;
os deuses religiosos, filosóficos e científicos:
eu podia morrer já.
O Óscar devia viver para sempre.

E se isto não é verdade,
tenho muitas dúvidas sobre
a verdade.