domingo, dezembro 20, 2015

Mais ou Menos Arnaldo.

POR MÁRCIO ALVES CANDOSO

Muitas pessoas consideram Arnaldo Matos um louco, um insensato, mas não um tipo perigoso. Talvez. Mas nunca fiando. E, além do mais, se se arroga o direito a escrever numa publicação partidária, deve ser levado a sério. Hoje é apenas um pascácio, amanhã pode tornar-se num vírus.

Tive o cuidado de ler o seu 'editorial' no jornal do MRPP. Passo de largo pelas patetices políticas 'revolucionárias' e pelas teses hilariantes sobre o marxismo-leninismo. São arqueologias sincréticas sem qualquer interesse, a não ser o facto de ainda existirem na cabeça de um burro.

Mas não posso deixar passar em claro o que verdadeiramente impele à escrita o 'camarada educador' do raio que o parta. O homenzinho assegura que os 'revolucionários' que se fizeram estoirar em Paris, matando 130 pessoas e ferindo mais de 300, não podiam permitir que os franceses julgassem 'ter o direito de se poderem divertir impunemente no Bataclan'. Verbera ainda os que não compreendem - não aplaudem? - os 'combatentes franceses' que 'fizeram explodir o Charlie Hebdo'.

Isto, meus caros, é crime. Considerar motivo de aplauso um crime - seja ideológico, fanático, religioso ou qualquer outra coisa - é igualmente crime. De peidola sentada na cadeira do inferno que preconiza, Matos pode ter as opiniões mais parvas que a sua alucinação inventar, falar mal do 'imperialismo' francês, da 'burguesia', do 'revisionismo', do que lhe der na retorcida mona.

Mas eu não lhe dou o direito de gozar com a minha civilização. E esta está muito mais na alegria das pessoas que frequentavam o 'Bataclan' ou os cafés de Montmartre, na pena dos cartoonistas que ironizavam com o fanatismo do que em qualquer eventual 'liberdade' de cagar as postas de pescada que o Arnaldo congemina.

A minha civilização não é o caderninho do Mao ou os insectos que a triste figura chinoca mandou matar, matando à fome os milhões de pessoas que dele necessitavam para polenizar os cereais. Não é o 'holomodor' de Estaline, que exterminou milhões de cidadãos ucranianos por se oporem à ditadura e quererem considerar seu o que seu era.

A minha civilização é o 'chanel nº5' como é Proust ou Françoise Sagan. É Oscar Wilde como Jack Kerouac ou Francisco I. São os tipos que tocavam no 'Bataclan', dos quais nem decorei o nome, mas que sei que agradavam a milhares de pessoas livres. São os copos de 'Beaujolais' ou as fatias de 'Brie' que se degustavam nas esplanadas do 'La Bonne Bière' ou na do 'Le Carillon'.

O Arnaldo é uma porcaria. Nunca saberá o que é ser feliz, por um instante que seja. É um falso transgressor, que só entende a punição como modo de vida. E o ódio que tem à alegria é a descrença que vê reflectida na figura que está no espelho nos dias em que lava a cara.