POR MÁRCIO ALVES CANDOSO
Muitas pessoas consideram Arnaldo Matos um louco, um insensato, mas não um tipo perigoso. Talvez. Mas nunca fiando. E, além do mais, se se arroga o direito a escrever numa publicação partidária, deve ser levado a sério. Hoje é apenas um pascácio, amanhã pode tornar-se num vírus.
Tive o cuidado de ler o seu 'editorial' no jornal do MRPP. Passo de largo pelas patetices políticas 'revolucionárias' e pelas teses hilariantes sobre o marxismo-leninismo. São arqueologias sincréticas sem qualquer interesse, a não ser o facto de ainda existirem na cabeça de um burro.
Mas não posso deixar passar em claro o que verdadeiramente impele à escrita o 'camarada educador' do raio que o parta. O homenzinho assegura que os 'revolucionários' que se fizeram estoirar em Paris, matando 130 pessoas e ferindo mais de 300, não podiam permitir que os franceses julgassem 'ter o direito de se poderem divertir impunemente no Bataclan'. Verbera ainda os que não compreendem - não aplaudem? - os 'combatentes franceses' que 'fizeram explodir o Charlie Hebdo'.
Isto, meus caros, é crime. Considerar motivo de aplauso um crime - seja ideológico, fanático, religioso ou qualquer outra coisa - é igualmente crime. De peidola sentada na cadeira do inferno que preconiza, Matos pode ter as opiniões mais parvas que a sua alucinação inventar, falar mal do 'imperialismo' francês, da 'burguesia', do 'revisionismo', do que lhe der na retorcida mona.
Mas eu não lhe dou o direito de gozar com a minha civilização. E esta está muito mais na alegria das pessoas que frequentavam o 'Bataclan' ou os cafés de Montmartre, na pena dos cartoonistas que ironizavam com o fanatismo do que em qualquer eventual 'liberdade' de cagar as postas de pescada que o Arnaldo congemina.
A minha civilização não é o caderninho do Mao ou os insectos que a triste figura chinoca mandou matar, matando à fome os milhões de pessoas que dele necessitavam para polenizar os cereais. Não é o 'holomodor' de Estaline, que exterminou milhões de cidadãos ucranianos por se oporem à ditadura e quererem considerar seu o que seu era.
A minha civilização é o 'chanel nº5' como é Proust ou Françoise Sagan. É Oscar Wilde como Jack Kerouac ou Francisco I. São os tipos que tocavam no 'Bataclan', dos quais nem decorei o nome, mas que sei que agradavam a milhares de pessoas livres. São os copos de 'Beaujolais' ou as fatias de 'Brie' que se degustavam nas esplanadas do 'La Bonne Bière' ou na do 'Le Carillon'.
O Arnaldo é uma porcaria. Nunca saberá o que é ser feliz, por um instante que seja. É um falso transgressor, que só entende a punição como modo de vida. E o ódio que tem à alegria é a descrença que vê reflectida na figura que está no espelho nos dias em que lava a cara.