A falência do modelo socialista – e ele tinha necessariamente de
falir porque foi concebido para redistribuir a riqueza e não para a
produzir – fez os socialistas não só descrer de Marx como, e esse é o
nosso drama actual, fê-los regredir para Robespierre. Ver os actuais
líderes dos socialistas portugueses a fazerem acordos com o BE ou os
socialistas espanhóis a ponderarem uma aliança com uma criatura como
Iglesias não é um problema político. É um problema civilizacional.
(...)
Desde os tempos de Robespierre e do seu Comité da Saúde Pública
(o jacobinismo é indissociável de uma ideia sanitária da sociedade) que
se sabe que os radicais, invariavelmente minoritários, conseguem de
facto mandar porque os desmandos dos revolucionários são aceites com
fatalismo quer pelos moderados, que lhes reconhecem uma óbvia
superioridade política, quer por aqueles que num passado recente se
destacavam a denunciar os abusos e os falhanços do poder conservador e
que perante a pesporrência e a mediocridade dos revolucionários se
calam. Uns temerosos. Outros cúmplices.
In "Já perceberam ou querem que faça um desenho?" - Observador - 31.01.2016