Eu sei que as borboletas têm um problema grave.
Não estão psicologicamente preparadas para a ventania
de um Agosto frio como o raio.
Tentam esvoaçar, com a elegância que a natureza lhes concedeu
e tudo o que fazem é derrapar e toda a gente sabe que,
quando não consegues ir em frente, estás a perder tempo.
quando não consegues ir em frente, estás a perder tempo.
A borboleta não sabe o que fazer com as asas nem com o verão
nem com a vida, que é de mau tamanho.
nem com a vida, que é de mau tamanho.
Eu sei que as borboletas têm um problema grave.
Não percebem que viver um dia apenas,
mesmo que um dia de agosto frio e ventoso,
mesmo que um dia de agosto frio e ventoso,
vale exactamente a mesma coisa que
120 épocas balneares escaldantes, sem sombra de ventanias.
As borboletas, pensando bem,
Não sabem a sorte que têm.
Quando os dias de tormenta as desequilibram,
no seu efémero momento da glória possível,
no seu efémero momento da glória possível,
tudo o que acontece é nada.
As borboletas são sem consequência.
E à vida sem consequência há quem chame: felicidade.*Poema inspirado numa célebre frase do Senhor Rui Canas.