- Viva, bom dia.
- Muito bom dia, em que posso ser de serviço?
- Recebi uma multa de 150 imperadores de ouro, por ter passado na Hiper-Via Marte-Saturno sem ter pago a portagem.
- Ah, muito bem, acontece. Como deseja proceder ao pagamento?
- O caso é que não desejo proceder a pagamento algum.
- Como lhe aprouver, cidadão, mas devo alertá-lo para as coimas acrescidas e a subida da taxa de juro, caso não respeite o prazo de pagamento estabelecido.
- Oiça, trata-se com certeza de um equívoco. Eu nunca transitei nesta via.
- Talvez o cidadão não o tenha feito, de facto. A ocorrência deu-se com a viatura intra-estelar ligeira de passageiros de matrícula 45-OS-32. Talvez a sua esposa tenha usado a viatura nesse dia?
- Meu amigo, eu sou viúvo. Não tenho filhos. Vivo sozinho e não possuo qualquer viatura intra-estelar. Desloco-me de bicicleta.
- Certo, certo, e pode por favor indicar-me a matrícula da sua bicicleta?
- Com certeza. É 45-0Z-32. Mas não vejo como...
- É muito simples cidadão. O instrumento de leitura óptica da portagem instalada na Hipervia Marte-Saturno registou equivocamente um S no lugar do correcto Z. Como disse que desejava liquidar a notificação?
- Vamos lá ver se nos entendemos: eu não transitei na hipervia em questão nem de viatura intra-estelar nem de bicicleta, da qual sou, aliás, o único proprietário e utilizador. E, assim, não vejo porque devo pagar qualquer multa.
- Cidadão, estou apenas a tentar ajudar. Os factos permanecem: o cidadão foi notificado. É necessário liquidar a coima. As regras são para cumprir. A companhia é muito rigorosa na igualdade do cidadão perante a lei. E vice versa. Penso que, se o cidadão admitir que se fazia transportar de bicicleta, poderemos reduzir em cerca de 30% o valor da coima, ao abrigo da Acta Para os Cidadãos Ciclo-Turistas em Trânsito no Sistema Solar. Embora isto nos levante um outro problema.
- Que é...
- O cidadão que viaja de bicicleta na Hipervia Marte-Saturno deve transitar pelo ciclo-eixo dedicado. Ora, parece-me que a notificação diz respeito a uma portagem de veículos intra-estelares ligeiros. Esta situação é passível de uma coima que pode atingir os 32.000 imperadores de prata.
- Deuses de toda a galáxia, mas se eu nunca transitei nessa maldita hipervia!
- Não estou a colocar em dúvida a palavra do cidadão, que é seguramente honorável. Porém o facto permanece. Aceitamos cheques, mas há custos de inquérito de provisão que acrescem...
- Se não há remédio, pago. Mas vou recorrer.
- Concerteza cidadão, é um direito devidamente consagrado pela Carta dos Direitos do Utilizador das Hipervias Celestes, mas devo alertá-lo que o Tribunal da Circulação Cósmica está neste momento paralisado devido ao excesso de processos com origem no colapso do Nó de Plutão.