A imprensa ocidental lembrou-se agora que a Arábia Saudita é um país bandido. Quando Barak Obama beijava os pés dos emires, ninguém se incomodava com isso. Nessa altura, a Arábia Saudita era um país espectacular. Agora, que Trump pesa - e bem - os prós e os contras de renegar um dos principais produtores de petróleo do mundo, é um fascista que protege fascistas.
A imprensa ocidental lembrou-se agora que existe uma ameaça latente de guerra civil na América. Há quinze dias atrás, quando Hillary Clinton disse que só podia ser civilizada se ganhasse as midterm elections, ninguém se alarmou.
A imprensa ocidental diz que Bolsonaro é fascista. Mas Maduro não. Maduro é um sério defensor dos valores universais da democracia e do humanismo.
A imprensa ocidental responsabiliza Donald Trump pelas bombas postais que não mataram ninguém. Mas não responsabiliza o Partido Democrata pelo massacre de hoje, na sinagoga de Pittsburgh, onde morreram pelo menos 11 pessoas.
A imprensa ocidental considera que Megyn Kelly deve ser despedida da NBC porque a rapariga não vê qualquer problema em que um branco pinte a cara de preto para uma máscara de Halloween (porque se trata de uma inaceitável afirmação racista). Mas considera também perfeitamente legítimo que os pivots da CNN caracterizem o apoio de Kanye West a Trump como algo que acontece a um negro que não sabe ler (o racismo desta afirmação já é aceitável).
Esta dualidade de critérios é o novo normal. Navegando entre uma espécie de autismo e a mais constrangedora cegueira dogmática, a imprensa ocidental mergulhou na maior crise de credibilidade e de audiências da sua história. Uma crise da qual muito dificilmente vai recuperar. E ainda bem.
Depois não venham chorar nos ombros de quem andaram a enganar durante décadas.