Sempre desgostei da expressão "uma imagem vale mais do que mil
palavras", até porque é rigorosamente falsa, até porque uma palavra vale
mais que mil imagens, caso contrário João tinha começado o seu
evangelho com a frase: "No princípio era a imagem" e não foi bem isso que
sucedeu. Ainda assim, resta muito pouco palavreado quando olhamos para esta fotografia aqui:
O 911 de 1963 é um objecto de culto. As linhas não são propriamente harmoniosas e as proporções também não estão de acordo com nenhuma regra de ouro que se conheça. Mas o resultado é genial e é intemporal e leva-nos sempre a um momento mágico de contemplação do que é absolutamente belo na indústria humana. Ferdinand Alexander Porsche tem aqui o seu apogeu operacional, como designer, principalmente, e como engenheiro, talvez.
Apesar da frente enorme, que na verdade não serve para nada (o porta-bagagens é ridículo e a metade dianteira do 911 parece destinar-se apenas à colocação das ópticas), trata-se de uma viatura de motor posterior e tracção traseira. Não obstante, ou talvez por isso, é considerado o desportivo mais bem sucedido de sempre em competição automóvel. Trata-se, obviamente, de uma coisa que não quer ser prática ou simpática ou amigável. É o carro do Ric Hochet (a versão de 72), o meu herói-detective da banda desenhada do paleolítico superior.
O realismo, o pragmatismo ou o utilitarismo são valores que não têm nada a ver com o 911, claro. Só o amor estético e dinâmico pelos automóveis, a paixão da velocidade e a glória da combustão interna é que valem como argumentos para esta conversa. Só a posteridade é que pode validar, como valida ainda hoje, esta obra prima do engenho humano.
História do 911 e características técnicas aqui.