sexta-feira, março 08, 2019

Com o Twitter à mostra.

Da primeira vez que Joe Rogan entrevistou Jack Dorsey, o criador e actual CEO do Twitter, a coisa não correu muito bem, porque Rogan não estava nitidamente num dia bom e poupou imenso o entrevistado, principalmente nas questões ligadas à censura e aos constantes atentados à livre expressão por parte do gigante americano. Mas sendo Joe Rogan o tipo decente que é, percebeu bem a avalanche de críticas e decidiu gravar outro programa dedicado ao assunto. Voltou a convidar Dorsey, que veio acompanhado pela sua directora de moderação - Vijaya Gadde, mas agora optou por convidar também o tremendo Tim Pool, para que os executivos da rede social do canário fossem confrontados por um adversário à altura. E Tim Pool é um desses.

Nem vale a pena dizer que este podcast resultou bem melhor do que o anterior, tanto mais que dá para perceber perfeitamente que o Tweeter não é uma plataforma ideologicamente neutra. A conversa é sempre elevada e extremamente interessante; tanto Dorsey como Gadde mostram uma atitude dialéctica, positiva e até humilde, que é de assinalar, mas não conseguem na verdade disfarçar o preconceito ideológico, que começa logo por estar presente nas regras impostas aos utilizadores. E acaba num problema central, reconhecido por Dorsey: o pensamento de esquerda é dominante nas grandes techs de S. Francisco e dessa generalizada inclinação resultam plataformas preconceituosas, imparciais e, frequentemente, censórias. Marquei o início do vídeo para um momento que é bem explícito, mas todo o talkshow é eloquente nessa revelação. E das duas uma: ou o Twitter corrige a sua actuação doutrinária ou vai ter que perder os benefícios fiscais de que usufrui por não ter estatuto editorial. É preciso ter em conta que estamos a falar da mais poderosa máquina de fazer política dos tempos que correm.

De qualquer forma, estas 3 horas de formidável debate mostram que a América ainda conserva as suas velhas virtudes: liberdade de pensamento e de discurso, idealismo e capacidade de gerar massa crítica, material e cultural, para mudar o mundo.



Eu sei bem que em Portugal há muita gente que nem sequer se apercebe do que está acontecer com as grandes empresas tecnológicas americanas, que se transformaram em poderosas máquinas de convergência ideológica e, logo, de censura aberta e massiva. Infelizmente, desconfio que, mais tarde ou mais cedo, vamos todos sofrer os efeitos dessa tirania, independentemente até do espectro político em que nos localizamos. Mas por essa altura, o fenómeno será muito mais difícil de travar. Esse é, aliás, um dos problemas históricos do fascismo. É sempre diagnosticado tarde demais.