quarta-feira, julho 10, 2019
Da poesia enquanto escrita com os pés.
A maior parte dos benfiquistas teima em considerar que a profissão de Jonas Gonçalves Oliveira tem sido a de jogador de futebol, mas eu, por acaso, sempre achei que o homem ganhou a vida como poeta.
Enquanto teve a gentileza de ser o vate do meu clube, assinou 137 versos imortais, concluiu com sucesso 4 epopeias e deixou incontáveis estrofes de génio, no seu mítico caderno de 4 linhas.
Dos alexandrinos pés deste escrivão-mor saíram, com regularidade clássica e em quantidade vanguardista, apoteóticos manifestos líricos, conquistas de Troia, regressos a Ítaca, géneses de Roma, viagens marítimas a Calcutá, descidas ao inferno, visitas ao purgatório e elogios do paraíso.
Ora, um poeta assim, capaz de produzir sonetos com os tornozelos, cantigas de amigo com os joelhos e elegias ao pontapé, nunca arruma as botas. Na verdade, as botas de Jonas vão ficar para sempre entretidas com os belos e intrincados tercetos do poema infinito a que costumamos chamar eternidade.