Junho passa frio sobre o calendário e o silêncio.
O poema escreve-se sozinho
quando te sentas desacompanhado numa vigia branca,
altaneira sobre a enseada.
Está tudo já redigido:
o desenho do rio é verso sábio e antigo;
as colinas erguem as suas rimas sagradas que vão fazer música
com as estrofes da maré atlântica.
As andorinhas riscam o céu claro com finas linhas negras
de impecável métrica alexandrina.
O gado pasta com a serena certeza da erva fresca
e a erva fresca, pastada, é um soneto eterno.
O dia ventoso zumbe uma canção de cavalaria
enquanto a aranha devora a vespa que lhe caiu na teia.
Tudo está bem.