quarta-feira, agosto 07, 2019

A graça limitada, a pomba que chora, o polegar dentro da lata de cerveja e a rapariga de cabelos atados à locomotiva, ou porque é que os mexicanos não chegam a astronautas.

Se é verdade que a máquina de Hollywood entrou em modo disfuncional, para não dizer patético, já há uns anos valentes, não é mentira nenhuma que a sensibilidade do espectador vai sendo, aqui e ali e ainda assim, salva pela indústria televisiva (na dimensão stream da palavra, claro).

Perpetual Grace LTD, a série da Epix criada por Seteven Conrad e Bruce Terris é um daqueles produtos cinemáticos que prima por um absoluto princípio de disrupção. A julgar pelos seis episódios que já vi desta primeira temporada, os personagens falam como nunca ouvimos outros personagens falar. O fio da história desenrola-se como nunca vimos outra história porfiar, as circunstâncias da narrativa são nunca vistas, os factos são de fé e a fé troca-se numa loja de penhores por um colar de pérolas. A obra é filmada e editada de uma forma estonteantemente inovadora e tudo nesta magnífica, estranha, hilariante e excruciante série parece configurar o princípio de uma nova - e convincentemente insana - maneira de fazer as coisas.

O elenco, chefiado por Jimmi Simpson e Sir Ben Kingsley (que no sexto episódio interpreta um cover fabuloso de "When doves Cry") e secundado por uma mão cheia de brihantes e quase desconhecidos actores deixa, qualitativamente, qualquer produção mainstream a distâncias astronómicas. Há, também aqui, um trabalho de direcção de actores que traz novas texturas aos rostos, novas cores aos diálogos e uma reinaugurada humanidade à cinematografia.

Se gostas de séries, gentil leitor, experimenta esta. Mas prepara-te. Vais estar perante algo que não é parecido com nada que até agora tenha atingido a alma da tua retina. À excepção, mal comparada, de Breaking Bad.

Boa sorte e boa viagem.