Logo depois de Genghis Khan - o assassino que impera ímpar sobre a História Universal da Infâmia - vem Mao Zedong, exterminador de bastantes mais infelizes que o dueto sinistro de Hitler e Estaline em concerto afinado. Assim sendo, o actual Partido Comunista Chinês, accionista de facto de uma boa parte do capital de grandes corporações ocidentais e detentor de dívida soberana de uma quantidade aterradora de estados, é em simultâneo responsável material pelo segundo grande extermínio de que há registo na ensanguentada rábula dos homens.
Mas com a China ninguém se mete e a recente resolução do Parlamento Europeu, que equipara o horror do comunismo ao horror nazi, procura - formal e mediaticamente - evitar que qualquer salpico de crítica salte para o pano imaculável da bandeira do Império do Meio. Na notícia do Observador, boletim sempre muito obediente à cartilha mainstream, figuram apenas os dois satânicos marretas do costume: o russo e o alemão. Como se os totalitarismos de carácter marcadamente genocida, condenados na resolução, fossem uma particularidade geo-política: para cá dos Urais, matamos mais.
A anacrónica necessidade de votar uma resolução sobre este deprimente assunto é - em sim mesmo - espantosa. Pelos vistos, até aqui a posição oficial da União Europeia tem sido a de que o bom do Estaline tinha mais fama que proveito, que os Khmer Vermelhos eram anti-fascistas bem intencionados e que a família de presidentes da Coreia do Norte trabalha há três gerações para o bem da humanidade.
Mais a mais, a resolução permanece objectivamente falsa. Se os eurodeputados querem mesmo dedicar-se à discutível arte de medir o tamanho das pilinhas dos grandes homicidas, que o façam com rigor. O comunismo internacional matou duas ou três ou quatro vezes mais gente que o nazismo, até porque durou muito mais tempo; o tempo necessário para retirar qualidade de vida, liberdades e direitos a toda uma ópera de povos. Como produtor de infelicidade, o comunismo não tem rival pelo que a equiparação ao também tenebroso, mas muito menos bem sucedido regime nazi não é de todo credível.
Noto que a resolução recolheu 66 votos contra e 52 abstenções, pelo que temos 118 eurodeputados que são ineptos em Aritmética, ignorantes da História e destituídos de Moral. São muitos e são demais.