terça-feira, novembro 26, 2019
Impeachment bullshit.
São todos diplomatas, os quatro cabeças de cartaz das audições do impeachment ao actual Presidente dos Estados Unidos da América, acusado de usar apoio militar e financeiro à Ucrânia em troca de uma investigação às muito suspeitas relações entre a família Biden e este país.
William Taylor, o actual embaixador para a Ucrânia, testemunhou que ouviu alguém dizer que Trump estava a fazer chantagem.
Alexander Vindman, Tenente-Coronel com assento no National Security Coucil, veio dizer que também ouviu falar nisso. E que o Presidente é um tipo horrível.
Marie Yovanovitch, a ex-embaixadora na Ucrânia, jurou que estava muito magoada e triste por ter sido despedida por Donald Trump e assustada por causa dos tweets do Presidente.
Gordon Sondland, o embaixador para a União Europeia, depôs que nunca recebeu instruções directas de Donald Trump para fazer chantagem com a Ucrânia. Que ele chegou sozinho, em exercício especulativo, à conclusão de que a intenção do seu patrão era essa. E que julgava que fazer chantagem com a Ucrânia não era um crime. Que era natural nas bárbaras relações entre estados a que chamamos eufemisticamente diplomacia.
Portanto, as audições acabaram sem produzir um vestígio de evidência que possibilite a prova de crime praticado e um impeachment de carácter legal, ou a demonstração directa e inequívoca de matéria de tal forma censurável que justificasse um impeachment de carácter político.
Ouvir dizer não faz prova de nada, como o mais medíocre dos juristas sabe bem; o carácter dos presidentes não é constitucionalmente mensurável; os sentimentos feridos dos diplomatas não contam para o totobola e matar o tédio com tweets inconvenientes e de mau gosto retórico também não é um crime, até ver. Por fim, despedir diplomatas é um privilégio constitucional de qualquer presidente americano. Obama despediu todos os nomeados por Bush e a prática é, historicamente, recorrente.
As audições correram tão mal que o Partido Democrata está agora perante uma muito complicada questão operacional: se deixa cair o processo, admite a derrota, depois de ter prometido a vitória, que foi previamente anunciada ad nauseum pela CNN e pela MSNBC e pelo Washington Post e Pelo New York Times. Se prossegue com a votação necessária em Congresso para que o processo transite para o Senado, corre sérios riscos sem nenhum benefício. Para já, porque não é líquido que todos os congressistas democratas votem a favor da impugnação (terão depois que prestar difíceis contas ao seu círculo eleitoral). Por outro lado, a maioria republicana no Senado nunca irá votar favoravelmente, com total ausência de provas, a remoção de um presidente eleito e o processo pode rapidamente virar-se contra os procuradores iniciais. Adam Schiff (o Intelligence Committee Chairman e never trumper que lidera e iniciou o processo), os Biden e outros figurões ligados à intriga, não querem ser apanhados no banco de testemunhas do actual Senado americano. Ou vão mentir, o que na situação dá cadeia, ou vão passar um péssimo bocado. Isto é certo.
Mais a mais, as sondagens apontam neste momento para uma significativa descida na percentagem dos cidadãos americanos que apoiam a intenção de correr com Trump da Casa Branca, desta forma assim niilista.
Em conclusão, este impeachment não passou na verdade de uma péssima manobra política de que os democratas se vão arrepender amargamente em novembro de 2020. A não ser, claro, que Michelle Obama decida entrar na corrida das primárias. É que não há mesmo mais ninguém capaz de tirar Donald Trump da Sala Oval.
Uma última nota: se queres saber o que se passa nos Estados Unidos - ambição complicada, gentil leitor - não acredites em nada, mas nem numa vírgula dos jornais portugueses. E não acredites também numa só entidade da imprensa americana. Como 90% dela ainda mente mais do que a redacção do Observador consegue mentir (e são bastante mentirosos, estes rapazinhos), tens que passar umas boas horas a ler mentiras da esquerda e mentiras da direita para chegares a ter uma vaga ideia do que realmente se passa. Começa a ser bastante nítido que o jornalismo morreu, algures no fim do século XX.